segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Diretores do Instituto Bíblico do Norte- 1945 a 1985

Rev. Raynard Arehart juntamente com sua esposa Frances Arehart são diretores  fundadores do IBN. Dirigiram o IBN nos seguintes períodos:  1945 a 1946; 1955 a 1962 .

 A  profa. Charlotte G. Taylor dirigiu o IBN nos seguintes períodos: 1946 a 1948;1950; 1952 a 1954 ;1963 a 1964 ; 1972 a 1978 ;


Miss Charlotte Taylor (vestido estampado) e familiares da aluna Louzedes Murta.
A Profa. Edla Gabriel de Oliveira  foi a primeira brasileira diretora do IBN em 1949.



 A profa. Anne Farr Pipkin  dirigiu o IBN nos seguintes períodos: 1951 a 1952;  1979

Anne Farr Pipkin

A  profa. Aretuza Gueiros Pessoa dirigiu o IBN no período de 1965 a 1970;
A Profa. Edna Texeira : 1971;

Profa. Edna Texeira, Rev Gerson Gouveia e alunos do IBN
 Rev. Frank Musick: 1979 a 1982; 1984 a 1985


Rev. Frank Musick e Elizabeth Musick

Rev Paul Coblentz: 1983

Rev.Paul Coblentz e Adélia Coblentz
Comunidade do IBN no facebook: http://pt-br.facebook.com/#!/groups/123790117691365/


Leia mais sobre o IBN:
http://terradomagano.blogspot.com/2010/03/blog-post.html
http://terradomagano.blogspot.com/2010/01/instituto-biblico-do-norte.html
http://terradomagano.blogspot.com/2010/03/missionarios-americanos-em-garanhuns.html
http://terradomagano.blogspot.com/2010/03/historia-em-fotos-do-ibn.html
http://terradomagano.blogspot.com/2010/02/acao-pedagogica-do-ibn-sob.html

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A Hecatombe de Garanhuns

Rosilda Cavalcanti 
Gazeta de Notícias, 22 de novembro de 1918

Antecedentes políticos:
Desde os anos de 1895 a ala política dominante em Garanhuns era liderada pela família Jardim. No início, pelo Dr. Luis Afonso de Oliveira Jardim . Depois da morte de Luiz Jardim, o seu irmão, o professor Manuel Jardim assumiu a liderança.

A ala opositora, inicialmente,  era liderada pelo Dr. Severiano do Rego Chaves Peixoto.

Neste período, o legistalivo denominava-se Conselho Municipal e era composto de 9 membros. O Executivo era formado por Prefeito e Subprefeito.  Todos com mandato de três anos.

O governo dos Jardins abrangia um grupo fechado, que tinha por base, os parentes, os aderentes e agregados com relações de dependência consanguínea, material e moral.

Luiz Jardim era acusado de muitos crimes e governou com mão de ferro a política garanhuense. Morreu em 1905,  dizem que de desgosto por haver sido indiciado num processo crime pelo Superior Tribunal de Justiça de Pernambuco.

Foi por determinação de Luiz Jardim que se construiu o "estado-maior" da cadeia pública de Garanhuns, a fim de poder deter legalmente seus adversários políticos que tinham postos na oficialidade da Guarda Nacional.

Manoel Jardim, porém,  era homem bom, cheio de escrúpulos. Entre 1895 e 1911 foi sempre eleito deputado estadual, sendo prefeito de Garanhuns por mais de uma vez. Homem honesto, quando da sua morte, deixou para os órfãos apenas a pensão que recebia do Estado como Professor.

Até meados de 1911 a oposição aos Jardins era quase inativa. Houve pleitos eleitorais em que a oposição sequer apresentou candidatos.

Mas, a partir de 1907, alguns acontecimentos marcaram o início do declínio do Jardinismo em Garanhuns.

O prefeito eleito no pleito de 1907, o Comendador Manoel Clemente da Costa Santos não fez uma boa administração e a maneira como se conduziu touxe prejuízos ao partido e concorreu para seu enfraquecimento. Faltando um ano para o término do mandato ele renunciou e assumiu, em seu lugar,  o subprefeito Manoel Quirino dos Santos, que concluiu o período de governo.

Mesmo assim, os Jardins triunfaram nas eleições de 1910 e elegeram o candidato Antonio Izaac de Macedo. Mas, este prefeito também renunciou o mandato pouco depois de assumir o cargo.

Em 1911, aconteceram novas eleições e os Jardins triunfaram novamente e elegendo para Prefeito o Coronel Argemiro Tavares de Miranda.

Argemiro Miranda realizou uma  boa administração mas também renunciou antes de concluir o mandato. A renúncia foi motivada pelo resultado das eleições do governo de Pernambuco. O grupo dos Jardins apoiava o general Rosa e Silva, mas o governador  eleito foi o general Dantas Barreto. Com a perda do apoio político de Rosa e Silva, Argemiro preferiu retirar-se da política.

Estes acontecimentos pioraram a crise do situacionismo e determinaram o declínio do Jardinismo em Garanhuns, dando lugar ao fortalecimento de outra ala que tinha a frente o Coronel Júlio Eutímio da Silva Brasileiro,  o qual venceu as eleições para prefeito em 1912.


Fonte: Diário de Pernambuco-21.06.2001- Crimes que abalaram Pernambuco
Júlio Brasileiro era um fidalgo rural, educado, fazia amigos com grandes facilidades, parecia contrário a violência, mas, tolerava os abusos e fazia vistas grossas aos excessos dos parentes e correligionários.  A sua liderança política era marcada pelo apoio e proteção aos amigos, ameaças aos indecisos e vacilantes, combate impiedoso aos adversários.
Júlio Brasileiro assumiu a liderança política em Garanhuns praticamente sem oposição. Mas, em meados de 1916, o prefeito de Garanhuns, Francisco Vieira dos Santos, rompeu com Júlio Brasileiro, e recebeu o apoio de Rocha Carvalho e de Borba Júnior, dois médicos de prestígio, além do apoio de comerciantes e industriais como Sátiro Ivo, Antonio Marques Café, Antonio Pereira dos Santos, Antonio Ivo, etc.

Os Jardins deram apoio aos dissidentes, organizaram a oposição, e apresentaram candidatos a cargos eletivos. (10.07.1916).  Sendo, Dr.  José da Rocha Carvalho para prefeito e Dr. Antonio Borba Júnior para Subprefeito.
Jornal do Recife, 19/03/1925
Jornal do Recife 18/01/1917


A ala dominante vendo na pessoa destes candidatos um perigo à vitória,  lançou para prefeito o seu próprio líder, o Coronel Julio Brasileiro que a esta altura era deputado estadual. O Coronel teve uma vitória retumbante, mas as eleições foram anuladas, por que no Diário de Pernambuco foi denunciado que o Coronel havia tirado títulos em duplicata para que os eleitores votassem mais de uma vez em seções diferentes. Novas eleições foram realizadas e apenas o Coronel Júlio Brasileiro concorreu. O Coronel não chegou a assumir  a prefeitura por que foi assassinado antes da contagem dos votos.

O assassinato do Cel. Júlio Brasileiro foi a causa da hecatombe que enlutou a cidade de Garanhuns.


Agostinho Jorge da Costa ( Jorge Vaz):
Proprietário Rural, inimigo da família Jardim, Jorge Vaz foi um dos que levou Luiz Jardim ao tribunal de justiça . Além disso, tinha no Foro uma questão de terras contra Francisco Veloso, cunhado dos Jardins. Com a morte do Coronel Brasileiro, Jorge Vaz previu a volta ao poder dos seus antigos inimigos.

Sales Vila Nova




Fonte: Diário de Pernambuco-21.06.2001- Crimes que abalaram Pernambuco.

Francisco Sales Vila Nova e Melo, natural de Bonito/PE,  chegou a Garanhuns em 1874, com dois anos de idade. Mais tarde, tornou-se Capitão da Guarda Nacional e ingressou na política, ocupando vários cargos públicos.

Era tido como homem pacato, mas, irrequieto. Não policiava o que dizia. Divulgava tudo, em sussuros ou mesmo às claras, nas esquinas,nos bilhares, nas mesas de bar. Era,  por índole um questionador nato, um homem do contra.
O Malho - Ed. 268- 1907

Envolvia-se em causas sociais beneficentes e foi o fundador da Sociedade mortuária em Garanhuns.

A sociedade mortuária  foi algo muito importante para os pobres. Em Garanhuns, os cadáveres de indigentes eram conduzidos para o cemitério em redes, giraus, ou mesmo arrastados por populares que  eram constrangidos pela  polícia para fazê-lo.

Escandalizado com o modo brutal da condução do cadáver de um preto velho, indigente, para o cemitério, Sales  reuniu alguns amigos e fundou a sociedade mortuária, em setembro de 1906.

Durante o Natal, Sales Vila Nova conseguia grande número de doações, armava uma árvore e destribuia presentes para as crianças pobres.

Generoso, fundou um abrigo para recolher os retirantes que fugiam periodicamente da seca.

Revoltado com as injustiças dos poderosos contra os fracos, denunciava, por meios de artigos publicados nos jornais da Capital , o abuso das autoridades constituídas, partissem de onde partissem os abusos. O Capitão assinava seus artigos com o pseudônimo de " O Inspetor".

Sales Vila Nova era correligionário do professor Manoel Jardim. Mas também, era compadre e amigo do Coronel Júlio Brasileiro.

Desentendimentos com a família Brasileiro
Os fato que vão desencandear os desentendimentos entre a família Brasileiro e o capitão Sales são protagonizados pelo comportamento de familiares do Deputado. Especialmente por Eutíquio Brasileiro, rapaz solteiro, moço e elegante, irmão mais novo do deputado Júlio Brasileiro. 

Eutíquio  morava em Palmares. Tudo indica que devido aos desregramentos do moço , a família o enviou para Garanhuns para estar sob as vistas do irmão mais velho a quem devia temor e respeito, pelo menos era isso que se supunha.

Também , moravam em Garanhuns dois sobrinhos do Coronel Julio Brasileiro: Álvaro Brasileiro Viana  e o Capitão Antonio  Pais da Silva Rosa Filho, este era subdelegado de polícia. Eram bem vistos em Garanhuns por serem  envolvidos com projetos culturais e de diversão.  Fundaram  a Arcádia Dramática,  o Núcleo Dramático e O Recreio Familiar Garanhuense. Mas, com a vinda do tio Eutíquio, passaram a ter atitudes reprováveis e faziam vistas grossas para os desmandos do tio.

O historiador  Mário Márcio de A Santos assim define Eutíquio Brasileiro: Eutíquio com um ardor nervoso, uma fúria juvenil, saboreava a vida por todos os poros. Uma roda contínua de divertimentos ocupava esses jovens - Eutíquio ,Antonio Rosa,  Alvaro Viana, Fausto Galo e mais uns poucos- ardentes e ousados. Davam prova de perfeita lucidez de espírito na esfera restrita de seus interesses. (...) Eutíquio, principalmente vivia pronto para trinchar o fruto suculento que o destino lhe oferecia - tão rico, tão livre, tão entregue aos seus instintos naturais...

O Capitão Sales Vila Nova censurava, através de artigos na imprensa, o subdelegado capitão Antonio Rosa por não estar cumprindo com o dever e não tomar nenhuma medida para coibir as irregularidades praticadas por Eutíquio,  Álvaro Viana e outros protegidos do Coronel.

As denúncias se referiam à surras, invasão de terras, recusa em pagar dívidas com ameaças e violência aos credores, sedução, corrupção do tribunal de júri, etc.

Contrariados com as acusações Eutíquio, Álvaro e Antonio Rosa intimaram o Capitão Sales a parar com aqueles artigos, sob pena de lhe aplicarem uma surra de cipó de boi que era o instrumento de castigo mais aviltante da época.

Não dando ouvidos, o Capitão Sales escreveu novo artigo, desta vez,  apelando para o Coronel Júlio Brasileiro a fim de que ele tomasse providências e responsabilizando-o por qualquer mal que lhe viesse acontecer.

No dia 12 de janeiro de 1917, ás 22 horas de uma sexta-feira, quando se dirigia para sua residência, na atual rua Cabo Cobrinha, o capitão foi agarrado e dominado por seis indivíduos mascarados que impiedosamente o surraram.

No domingo, o Capitão viajou com destino a Recife a fim de se encontrar com o Coronel Júlio Brasileiro. Encontrou-o no Café Chile junto ao Edifício do Diário de Pernambuco. De revólver em punho, aproximou-se e disparou vários tiros no Coronel e evadiu-se em seguida, tendo a fuga sido interceptada por populares e pela polícia que o conduziu para o quartel na rua do Imperador onde ficou detido com as regalias a que tinha direito por ser um Oficial da Guarda Nacional.

O Deputado, cambaleante, dirigiu-se ao Hotel Lusitano e caiu na calçada, falecendo poucos minutos depois.

Os envolvidos:

Da esquerda para direita: Argemiro de Miranda, Sátiro Ivo, Francisco Veloso,Antonio Borba, Júlio de Miranda e Luiz Gonzaga Jardim
Na segunda-feira, pela manhã a família Brasileiro recebeu o telegrama que comunicava  a morte de Julio.  A viúva, Ana Duperon  declarou que não derramaria uma só lágrima pelo seu marido enquanto não fosse vingada a sua morte.

Os membros da família Brasileiro colocaram a idéia fixa de que o Capitão teria sido um instrumento dos adversários do chefe da família,  pois,  pacato do jeito que era, jamais cometeria um ato daqueles, mesmo tendo levado uma surra.

Telegrafaram, então, para Alfredo Brasileiro (Doca Viana), um irmão de Álvaro Viana que morava em Brejão na fazenda do Deputado e pediram que ele viesse acompanhado de homens armados. Reuniram ainda, vários desordeiros e capangas que armados de rifles se dirigiram a casa comercial dos irmãos Julio e Argemiro Tavares de Miranda, que avisados, fecharam o estabelecimento e se esconderam. Os atacantes fizeram vários disparos nas portas do estabelecimento. Dali, partiram em direção a casa comercial do Major Sátiro Ivo da Silva que fechou as portas e ficou lá dentro. Gritando palavras injuriosas e de baixo calão, os meliantes convidavam Satiro Ivo a sair para a rua.

Jornal do Recife- 17/01/1917

José Lins Cavalcanti, primo de Álvaro Viana e guarda-livros da firma comercial de Sátiro Ivo, chegando ali, convenceu-os de que o Major havia fugido pela porta traseira juntamente com os empregados.  A horda dali se retirou e dirigiu-se para a casa do médico Dr. Borba Júnior. O médico é agredido na cabeça com uma caçarola pelo cangaceiro Joaquim Paidégua e sangrando, é levado para a cadeia pública , tudo  sob a liderança do sub delegado Antonio Rosa.

O Major Sátiro Ivo envia um emissário com um cartão endereçado ao Tenente Antonio de Pádua Pimentel Meira Lima , delegado de polícia do Município pedindo garantia de vida. O Tenente responde não lhe ser possível dar qualquer garantia de vida a Sátiro Ivo, pois era muito reduzido o número de soldados dodestacamento, nada podendo fazer contra "aquela cabroeira" julgando aconselhável que ele fugisse ou se escondesse em lugar seguro.


Sátiro Ivo resolve se esconder na residência de sua mãe num local onde havia muito cilos que armazenavam Cereais. Um esconderijo que em último caso serviria de boa trincheira.

O delegado depois de receber o cartão de Sátiro Ivo dirige-se a residência da viuva do Coronel Brasileiro, lá encontra o Juiz de Direito da Comarca Dr. José Pedro de Abreu e Lima e também Antonio Padilha, um oficial reformado e amigo íntimo da família que,  persuadidos ou não, acabavam de consertar com a família do morto os planos para a vingança.

Exposto o plano ao tenente- delegado ele não quis concordar porém ante os meios de persuassão apresentados pelos presentes acabou concordando e tratou logo de pô-lo em execução.

O Plano:

Cadeia de Garanhuns

Dada a dificuldade de serem assassinados todos que a família brasileiro desejava, por se haverem escondido; Além disso, havia pouco tempo, pois o trem deveria trazer um reforço de soldados.
O plano era que o delegado deveria aconselhar às famílias das vítimas que se recolhessem á cadeia pública, assumindo ele a responsabilidade de garantir-lhes a vida, e com a chegada do reforço, tudo se acalmaria e os garantidos poderiam regressar incólumes ás suas residências.
Porém, quando todos lá estivessem a cadeia seria atacada sem defesa, pois, imaginavam eles, que a guarda composta apenas de quatro soldados e um cabo, intimados por um número muito maior de cangaceiros, se renderia facilmente. O tenente, além disso, deveria tirar grande parte de munição da cadeia para enfraquecer a guarda, no caso de qualquer resistencia por parte dela.
O Tenente foi até a cadeia, retirou a munição e avisou ao Cabo comandante da guarda que desse valimento a todos aqueles que o procurassem e os recolhesse a prisão, porém, sem armas.
Em seguida, procurou o Português Manoel Bento Dantas,  que escondia em sua residência os irmãos Tavares de Miranda , e o convenceu de que os Mirandas estariam mais seguros na cadeia e  que tirá-los de sua residencia seria uma maneira de garantir sua própria segurança e da sua família.
Posteriormente,  o delegado convenceu ao professor Manoel Jardim e ao Tenente-coronel Francisco Veloso da Silveira, por sinal, seus cunhados a se refugiarem na cadeia, e persuadiu a esposa do Major Sátiro Ivo a convencer o marido a sair de seu esconderijo tão seguro.
 Recolhidos todos a cadeia , o Tenente Meira-Lima havia desempenhado a contento a sua parte nas traiçoeiras maquinações.

Ironicamente, ficaram todos presos no quarto resevado ao "estado-maior" construído por Luiz Jardim. Lugar destinado a manter legalmente seus adversários políticos.
O Padre Benigno Lira empregou  todos os seus esforços como sacerdote e como amigo da família, no sentido de evitar a catástrofe.
Alguns familiares do Coronel até já haviam prometido ao Padre que não executariam a terrível vingança e tudo indica que estavam inclinados a cumprir a promessa.
Mas, estimulados por Agostinho Jorge da Costa (Jorge Vaz), amigo da família que  acompanhado de um grupo de oito ou  nove cangaceiros colocou-se á disposição da família, resolveram, então dar seguimento ao terrível plano. 

Padre Benigno Lira
Padilha, um tenente reformado encarregou-se da estratégia para invadir a cadeia e o Cangaceiro Vicentão assumiu o comando do Bando. A recomendação é que somente quando se esgotassem os meios suasórios para rendição da guarda é que se deveria abrir fogo, e que não deveriua escapar nenhum daqueles indicados para a vingança.

O grupo, composto de 23 cangaceiros, incluindo o tenente Padilha, partindo da residencia da viúva,  dirigiu-se a cadeia. Conforme instruções, Vicentão dirigiu-se ao comandante da Guarda dizendo que nada tinha contra a polícia e que se retirasse com seus soldados pois de outro modo, os atacaria.

O Cabo Cobrinha e a guarda:

O comandante da guarda -Cabo Antonio Pedro de Souza, apelidado Cabo cobrinha , falou a Vicentão que os cidadãos ali presos estavam sob sua proteção e garantia e que não os entregaria e somente com ele morto o grupo entraria na cadeia.

Vicentão teria argumentado que Cobrinha e os demais soldados eram moços de futuro, pais de família que precisavam criar suas famílias e que, portanto, abandonassem a prisão.

O cabo Cobrinha teria respondido que acima de tudo estavam cumprindo com seu dever e que portanto, os cangaceiros ali só entrariam se passassem por cima do seu cadáver.

Vicentão disparou o rifle contra o cabo cobrinha atingindo-o mortalmente, mas foi também atingido por um tiro certeiro do fuzil do cabo disparado antes de cair agonizante.

Postos fora de combate o comandante da guarda e o cabeça do bando, o tenente Padilha assumiu a direção do ataque.  O tiroteio continua. Os soldados resistiam valentemente revidando as descargas que vinham de fora.

O MASSACRE:

O quarto onde se encontravam aqueles que aceitaram confiantemente as garantias oferecidas pelo delegado tinha uma janela muito alta, na parte traseira,  para melhor arejamento do recinto. O carcereiro da cadeia José Rodrigues de Freitas (Dudé) forneceu uma escada aos malfeitores para que conseguissem alcançar a janela.

Os recolhidos estavam armados de pistola e revolveres que seus familiares haviam fornecido escondidos dentro de guardanapos nas bandejas de lanche e de refeição.

Um ex-soldado apelidado de Cuju, pela janela , foi o primeiro a alvejar cidadãos que estavam dentro do quarto, houve revide.


Vencidos os soldados que ofereciam resistencia, os sicários entraram na cadeia e iniciou-se a tentativa de derrubar a porta do quarto. Por alguns instantes os que estavam no interior, contiveram a invasão, mas por falta de munição a resistência se esgotou.  A invasão aconteceu e iniciou-se a chacina.

Tiros a queima-roupa, apunhalamentos, esmagamento de crânios, sauqes, decepações de dedos para serem retirados os anéis etc.

Argemiro Miranda, logo que a porta cedeu , saltou no meio da sala  onde apanhou uma arma abandonada  e  tentou vender caro sua vida ou sair dali, mas, ao chegar a porta da cadeia, foi atingido por uma descarga no peito.

Um filho, ainda criança que havia se aproximado da cadeia, ao ver o pai correu para ele, abraçando-o e ficando ao seu lado até a remoção do cadáver.

Luiz Gonzaga Jardim, um jovem que tinha ido ao recinto confortar o tio Manuel Jardim , foi miseravelmente e vagarosamente sangrado , aos gritos de mate-me logo , pelo amor de Deus.

Morreram os soldados Ezequiel Cabral de Souza, Francisco Maciel Pinto, Manoel João de Oliveira e Pedro Antonio Dias.

Consumada a hecatombe com a morte dos recolhidos , cinco praças,  e sete ou oito cangaceiros, chegam a cadeia os três sobrinhos e o irmão do Coronel Júlio Brasileiro.

Antonio Rosa deu ordens para ficar uma guarda de cangaceiros na cadeia, mandou por em liberdade dois detentos um dos quais  Zé de Nanquincha  que tinha do cárcere comum, ajudado no ataque e providenciou que os cangaceiros feridos fossem transportados para a casa da viúvaa fim de receberem os primeiros curativos feitos por José Correia da Rocha.

Dirigiram-se a casa da viúva para dar conta da nefanda missão. Álvaro Viana disse a tia: "Pronto, tia, agora pode chorar a morte de tio Julio, pois já foi bem vingada". E dirigindo-se os quatro para a sala de jantar , juntamente com alguns cangaceiros, comeram beberam e dançaram.
Jornal do Recife- 17/01/1917

Pouco tempo depois, chegou o trem , trazendo vinte e duas praças sob o comando do  então Tenente Teófanes Torres que se hospedou na residência do Tenente Meira Lima e os praças montaram guarda na frente da residência.

O Tenente Theofanes chamou Antonio Rosa e o atendeu debruçado em uma das janelas da casa. Conversou durante algum tempo com ele, ficou ciente dos fatos ocorridos e determinou que, durante a noite, mandasse retirar os cadávers da cadeia para a igreja, entregasse os corpos das vítimas as respectivas famílias, despitasse todos os cangaceiros remanescentes e que fizesse sair os feridos da casa da viúva brasileiro, pois no dia seguinte, iria proceder contra quem quer que fosse culpado.

Jornal do Recife- 17/01/1917


No outro dia, em um dos corredores da igreja Matriz, estavam estendidos, onze cadáveres. Soldados e cangaceiros que haviam sido transportados até ali numa carroça de lixo e foram conduzidos na mesma carroça até o cemitério onde foram enterrados em vala comum.

Os outros, em número de sete,  foram enterrados pelos seus familiares.

O Inquérito:
O Inquérito foi instalado pelo Juiz de Direito da Comarca de Nazaré da Mata, José Ribeiro Pessoa, nomeado pelo Governado do Estado. participaram da Comissão o bacharel Severino Tavares Pregana  promotor de Palmares e João Raul Nunes de Melo, escrivão de polícia da Capital.

José Correia da Rocha morreu na Casa de Detenção do Recife, por ter feito, na casa da viúva brasileiro, os primeiros curativos em cangaceiros feridos;

Doca Viana, também morreu na casa de detenção do Recife, por ter trazido da fazenda do tio , quatro cangaceiros, embora ele mesmo, não tenha participado da chacina;

O Capitão Eutychio da Silva Brasileiro por ser oficial da Guarda Nacional foi recolhido ao estado -maior do 2º Corpo de Polícia.

Álvaro Viana conseguiu provar sua inocência e foi posto em liberdade;

A Viúva Ana Duperon safou-se. Antonio Rosa foi considerado culpado, mas, foragiu-se;

Joaqui Pai dÉgua e outros reles cangaceiros foram considerados culpados e foram parar na prisão.
Cuju, resistiu a prisão e foi morto nas proximidades de Itacatu, por uma descarga de fuzil;

Jorge Vaz, foi morto a tiros em 23 de janeiro de 1918 por um desafeto.

Francisco Sales Vila Nova foi absolvido.

A Hecatombe reflete um aspecto da história do Coronelismo no Brasil, um período de práticas autoritárias e violentas comandadas pelos coronéis. Marca, em Garanhuns, o fim do poder político dos Jardins e dos seus opositores, os Brasileiros.

É possível perceber neste episódio como as camadas mais populares são levadas a  se submeter aos desígnios dos poderosos: foram os serviçais dos poderosos que atacaram a cadeia, e foram os soldados subalternos que a defenderam. Cangaceiros e soldados leais a ponto de sacrificarem suas vidas.

BIBLIOGRAFIA:
CAVALCANTI, Alfredo Leite, História de Garanhuns, 2ª edição, biblioteca pernambucana de história municipal,18, Centro de Estudos de História Municipal, 1997, Recife-PE;
SANTOS, Mário Márcio de Almeida, Anatomia de uma tragédia: a hecatombe de Garanhuns-Recife, CEPE 1992.

sábado, 9 de outubro de 2010

O Piãozinho de Paulinho


O piãozinho! o pião
de dois castelos, de castelos de ouro
de Paulinho... de broxa de latão...

O piãozinho
de enfieira nova
que o Paulinho
jogou lá no barro duro do caminho
rodou, rodou, rodou,
zuniu, zuniu, zuniu...

E
cansado de tanto rodar
e
cansado de tanto zunir,

tombou, tombou...
e caiu morto,
lá no meio do barro do caminho,
Nunca mais se levantou...

Vovó disse que a gente
na vida
é também como o pião
de cabeça de ouro, de broxa de latão
roda...roda...
zune...zune...
depois morre,
E vai morar toda vida
lá no meio do barro duro do Campo Santo
onde não se roda
onde não se zune
     onde não se morre...

sábado, 4 de setembro de 2010

Instituto Profissional Bom Pastor: Um aspecto da educação feminina católica em Garanhuns.



Ruínas do Instituto Profissional do Bom Pastor





Fundado pelas freiras da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, o Instituto configurou-se como um espaço voltado para o recolhimento, a  assistência e educação de meninas órfãs e pobres.

A Congregação do Bom Pastor foi fundada em Angers, na França, em 1835, por Santa Marie-Euphrasie Pelletier, com a finalidade de ajudar meninas e mulheres que estivessem em situação de risco.

Em 1871, as primeiras irmãs dessa Congregação chegaram ao BrasilEm 1891, inauguraram a sua primeira casa brasileira no Rio de Janeiro.

As irmãs do Bom Pastor que vieram para Garanhuns  ocupavam, em 1930,  o Convento Franciscano de Igarassu/PE. Mas, em finais da década de trinta,  depois de um surto de febre tifo o abandonaram. Na sede do  antigo Patronato Agrícola de Garanhuns  fundaram uma escola para meninas carentes, possivelmente em 1942.
Os Patronatos agrícolas eram  centros de aprendizagem e de divulgação de métodos culturais  e processos de manipulaçao agrícola e industrial rural criados pelo  Ministério da Agricultura e regulamentados pelo  Dec.  N.13.706 DE 25 de julho de  1919. 

No Bom Pastor, as meninas aprendiam doutrina cristã, leitura, contas( as quatro operações), caligrafia, trabalho de agulha, de lavar, de engomar etc.







Uma das grutinhas de pedra nas ruínas do Bom Pastor

 

O Instituto  funcionou como internato e escola até o início dos anos oitenta. Neste período, o prédio já se encontrava em condições precárias, oferecendo riscos às freiras e as meninas. Não havendo condições financeiras de recuperar o prédio, e não tendo obtido ajuda da diocese ou do governo, além disso, o prédio não sendo de propriedade da Ordem do Bom Pastor, as meninas foram entregues às suas famílias e as irmãs se transferiram para Recife.

Após esse episódio, o governo estadual, restaurou o prédio e instalou no local o batalhão da Polícia Militar de Garanhuns.

O Instituto Bom pastor recebia meninas órfãs e também meninas de famílias pobres em regime de internato ou externato.

Ficaram famosos os biscoitos de nata, o macarrão e os licores fabricados pelas irmãs e pelas meninas do Bom Pastor.

Referindo-se ao Licor, Joel Silveira , no seu trabalho Freyre no mundo de Apipucos, nos relata um ritual que o sociólogo Gilberto Freyre praticamente exigia de todos que visitassem sua residência:

De todos que lá chegam, o dono da casa só exige uma obrigação, espécie de ritual introdutório: que provem do conhaque de pitanga, cuja receita, invenção sua, ele nunca dá por inteiro, por mais que se insista, limitando-se a dizer vagamente que a infusão - realmente deliciosa - deve ter como base a cachaça chamada "de cabeça" (ou seja, a que sai no primeiro jato do alambique), que as pitangas têm que ser "vermelhíssimas, colhidas na hora" e que são imprescindíveis alguns pingos de licor de violeta, "um licor raro, uma beleza de licor misticamente roxo no seu colorido e seráfico no seu odor", fabricado pelas freiras do Convento do Bom Pastor, em Garanhuns. (SILVEIRA, Joel. Freyre no mundo de Apipucos. Manchete. Rio de Janeiro, a. 25, n. 1316, p. 98-102, jul. 1977.)

O Próprio Gilberto Freyre na sua obra "Açúcar -em tôrno da etnografia, da história, e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil, faz o seguinte comentário sobre o talento das irmãs do Bom Pastor : "...e acrescentando à tradição dos bolos e doces de aniversário, no preparo e no enfeite dos quais há peritas de talento, não só religiosas- as freiras do Bom Pastor de Garanhus(Pernambuco) continuam famosas pelos seus doces e seus licores de rosas e de violetas..."

BIBLIOGRAFIA:
FREYRE, Gilberto - Açúcar -em tôrno da etnografia, da história, e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil-Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1987 ;
SILVEIRA, Joel -A milésima segunda noite da avenida Paulista: e outras reportagens; Companhia das letras;

http://northistoria.com.br/convento-franciscano-igarassu/  (Acesso em 21.01.2016)

MEMÒRIAS DO BOM PASTOR

O que relataremos agora é fruto na nossa própria experiência vivida no Instituto Bom Pastor, a partir de meados de 1965 a 1967.

O fato que determinou a nossa inclusão no Bom Pastor foi a dificuldade de meu pai com o àlcool. O seu comportamento ficava bastante alterado de maneira que, para nos proteger, a nossa mãe preferiu nos internar no Bom Pastor.

Era necessário um preparativo para se entrar no Bom Pastor. As freiras entregaram uma lista que descrevia o enxoval que cada menina teria de levar:

O enxoval constava de dois conjuntos de farda compostos de saia azul e blusa branca de mangas compridas. Os sapatos pretos do tipo Vulcabrás, um tênis Conga, combinações, calcinhas, camisolas de flanela de mangas compridas e barra até os pés, lençóis,  toalha de banho e rosto, um saco para roupa suja, lenços, talco, sabonete, escova de dente e pasta. As iniciais dos nossos nomes eram bordadas na roupa. Cadernos, lápis, borracha e régua, e outros poucos  itens. Pronto o enxoval, fomos levadas ao Convento.





Painel pintado em azulejo- Figura de Jesus- o Bom Pastor

Havia um sino grande na porta principal . Uma porta larga. Puxava-se uma corda, o sino tocava, uma das irmãs vinha atender o visitante.

Nossos pais nos deixaram no parlatório do colégio. Era um lugar onde se recebia as visitas e dali elas não passavam. Doravante só nos encontrariámos com nossos pais naquela sala. Era um ambiente com movéis antigos decorado com imagens e quadros de santos.

Nos despedimos de papai e de mamãe e um fomos levadas por uma freira para o interior do convento.
Ela nos encaminhou ao dormitório que ficava na parte superior do prédio. Era um ambiente largo e amplo sem divisórias, mas havia um lado para as camas das meninas maiores e outro para as camas das menores.

Ao lado de cada cama um pequenino armário onde guardávamos nossos pertences. Apesar do armário ser pequenino, sobrou bastante espaço quando colocamos nossas coisas.

Havia um piano encostado numa das paredes do lado da escada. Não lembro de ter visto alguém tocá-lo.

No lado oposto a entrada da escada havia uma porta  que tinha uma pequena janelinha. A noite, de vez em quando, a janelinha se abria, era a irmã responsável pelo dormitório que estava a nos observar.  Era proibido falar no dormitório. Ficávamos todas em silêncio até dormir.

Numa das paredes laterais ficava a entrada para o lavatório. Havia um quadro de santo ao lado da porta. Lá estavam as pias para lavar o rosto. Nas paredes haviam cabides onde ficavam pendurados nossos sacos de roupas sujas. O ambiente tinha pequenos compartimentos com portas onde ficavam os sanitários.

A lampada da entrada do lavatório ficava acesa durante toda a noite para facilitar o acesso das meninas pequenas.

Fomos orientadas a manter nossas camas sempre bem forradas e a não trocar de roupas na vista das outras. Sempre entrávamos debaixo do lençol para trocar de roupa.

Pela manhã, uma freira tocava o sino ou batia palmas para nos acordar. Levantávamos e nos dirigíamos aos banheiros para escovar os dentes. Depois, vestíamos as fardas, sempre embaixo do lençol, forrávamos as camas e saíamos  em fila, em silêncio, seguindo a freira em direção ao refeitório.

O refeitório ficava na parte térrea do prédio. Havia uma freira responsável pelo refeitório. As meninas maiores ajudavam a fazer as refeições, serviam as mesas e lavavam pratos. Havia separação também no refeitório. Um lado para as meninas grandes , outro para as pequenas. Minha irmã mais velha tinha quase10 anos. Ela transitava pelos dois lados e azucrinava a todas.

Havia uma parede separando o refeitório da cozinha. A parede tinha uma abertura e uma espécie de balcão onde as meninas maiores pegavam as refeições e serviam as mesas. Havia uma freira responsável pela cozinha.

No café, depois de rezarmos, era servido um pequeno pão, muito saboroso, produzido lá mesmo. Ainda hoje sinto saudades do sabor e do cheiro daquele pão. Às vezes era servida uma papa de aveia que tinha um sabor horrível e cheiro desagradável. Havia outros cardápios, mas estes é que ficaram na minha memória.

Não se podia falar no refeitório, mas em alguns dias, a madre dava um sinal permitindo a conversa.
Depois do café, as meninas que estudavam pela manhã iam para sala de aula. As outras iam cuidar de suas tarefas. Toda a limpeza do convento era feita pelas meninas maiores, supervisionadas por uma freira. Havia uma freira responsável por cada atividade. As meninas maiores, lavavam, passavam, cozinhavam, cuidavam da horta e ajudavam as meninas pequenas a se arrumar.

A tarde acontecia o mesmo. Umas iam para a sala de aula e as outras iam cuidar das tarefas.
Os banheiros ficavam na parte térrea. Era um salão dividido em pequenos compartimentos com portas. Em nenhum momento podíamos tirar a roupa na vista das outras. Entrávamos vestidas no banheiro, e depois entregávamos a roupa a menina maior que ficava do lado de fora e que  aguardavam que saíssemos do banheiro para ajudar a pentear o cabelo e ajeitar a roupa.  

As  menores não sabiam tomar banho, a água de Garanhuns é muito fria e dava medo  entrar embaixo do chuveiro, sem ajuda, quase sempre, eu só molhava os pés, as mãos e um pouco do cabelo. Este era meu banho. Com o tempo adquiri umas patacas pretas de grude que minha mãe se ocupou de tirá-las nas primeiras férias, não sem antes me dar uns safanões e fazer muitas recomendações sobre como se banhar direito.

Das freiras, a gente só conseguia ver uma parte do rosto e as mãos.

Ao lado dos banheiros, havia a enfermaria com alguns leitos. Nunca estive lá. Só as meninas doentes entravam lá.

Havia,  na parte térrea, um galpão grande, aberto, onde nós recreávamos no intervalo das aulas. Brincávamos de "Escravos de Jó", de roda, de Amarelinha, de barra-bandeira ou de boneca.

Nos arredores do galpão havia o jardim, com flores e grutinhas de pedras onde haviam esculturas de santos. Eu gostava de todas as grutinhas. Sempre que podia fugia pra lá. Mais do que os santos era o barulhinho das águas das cascatinhas nas grutas que me encantava.

Havia também o pomar com siriguelas, pitombas, jaboticabas e carambolas. Não podíamos ir lá sem autorização. As frutas eram colhidas quando estavam maduras e servidas no lanche  nos intervalos das aulas, ou na sobremesa.

Num local separado do prédio maior , mais para o meio do jardim, tinha uma caixa dágua muito alta que tinha uma espécie de degraus de ferro da base até o topo.

Depois da caixa dágua ficava um pequeno prédio onde funcionava uma espécie de ambulatório. Só podia ir lá quem precisava de tomar algum remédio ou tratar algum ferimento. Algumas vezes, eu vi meninas se dirigindo ao local juntamente com a freira responsável. Em seguida eu só ouvia o choro das meninas. Uma vez, me disseram que era o remédio de sarna que doía. As meninas voltavam de lá com um cheiro horrível. Eu nunca estive lá.

No térreo ficava também o parlatório e a capela. Ao parlatório só íamos para receber as visitas ou para falar com a madre superiora quando fazíamos alguma traquinagem. Era no parlatório que corriamos para os braços de papai e de mamãe quando eles iam nos visitar, aos sábados ou domingos, de 15 em 15 dias.

Perto do parlatório ficava uma pequena cantina onde estavam expostas as guloseimas fabricadas pelas irmãs. Nós podíamos comprar e nossos pais pagavam a conta no dia da visita. Certa vez levamos uma bronca por causa da conta que extrapolou o orçamento. Mas, era difícil resistir a docinhos tão gostosos.

Aos sabádos e domingos, antes do café da manhã, nos dirigíamos em fila, à Capela. Na porta, havia um pequeno recipente com água. Todas tocavam na água e se benziam. Assístíamos a uma breve missa, ministrada pelo padre capelão do convento, e só depois iámos para o refeitório.

Às vezes, o Bispo ia visitar o Convento. Havia uma correria. Vestíamos a nossa farda de festa. Preparava- se uma programação especial de músicas e dramatizações. Numa das apresentações especiais na Capela, minha irmã caçula cantou uma música que dizia: " O caminho para o céu é Jesus".

Esta era uma música que ela aprendeu na igreja presbiteriana. Minha mãe era membro da igreja Presbiteriana Central de Garanhuns e quando fomos para o Bom pastor, nós já tinhamos muitos costumes protestantes.

O Bispo, Dom Adelino Dantas,  botou minha irmã no colo, parabenizou e disse que ela cantava muito bem. Ele cumprimentava todas as crianças  e tinha um olhar de amor.

Para a apresentação fora da Capela, as irmãs fizeram uma roupa de papel crepom colorido e desenharam bigodinhos de gato na minha irmã caçula e ela cantou: " Eu sonhei que era um gatinho que gostava de arranhar. "

Embora fosse do conhecimento das irmãs que nós haviamos sido educadas na fé protestante isso nunca nos  causou nenhuma dificuldade  e nunca fomos constragidas a fazer algo que não quiséssemos.

Enquanto, a noite, ao lado de suas camas todas as meninas rezavam, nós fazíamos as nossas orações ao modo protestante. Muitas vezes, até rezávamos mesmo, por que gostávamos de fazer o que as outras estavam fazendo e quando entrávamos na capela nos benziamos na aguinha benta, e nunca fomos  constragidas a fazê-lo ou a não fazê-lo. 

As tarde de sábado e domingo eram livres, mas, se quisessemos poderíamos ir ao refeitório ajudar a moldar os biscoitinhos de nata feitos pelas freiras e pelas meninas maiores. Moldávamos a massa com o garfo e quando a freira responsável tirava a vista jogávamos na boca tantos quanto pudéssemos.

Havia lá também um pequeno fabrico de macarrão. As meninas maiores faziam a massa e penduravam as tiras de macarrão para secar , depois empacotavam.

A noite, depois do jantar, conversavamos um pouco. As meninas maiores ficavam numa sala aprendendo a bordar. Depois, a irmã tocava o sino e nós a seguíamos em fila, para o dormitório. Minha irmã mais nova era a primeira da fila, pois era a menorzinha do internato e tinha seis anos.

Entrávamos em baixo do lençol, vestíamos a camisola de manga compridas e de barra até os pés, cada uma fazia sua oração e deitava-se. A freira apagava a luz, despedia-se da gente , entrava na sua clausura e nós íamos dormir. A luzinha que iluminava o santo,  perto do lavatório, permanecia acesa a noite toda.

Na parte superior do prédio havia uma porta pela qual  não podíamos passar. A porta que dava acesso a clausura. Nem imagino como poderia ser aquilo lá. A única lembrança que tenho daquele local, é a de um gemido constante que vinha daquela direção. As meninas me disseram que era a Madre vovozinha que estava muito doente. Eu não a conheci. Quando fui para o Bom Pastor, ela já estava doente e dela eu só conheci o gemido e o pranto. Aquilo me deixava triste.

Não havia castigos muitos severos para nossas travessuras. Em geral, levávamos uma bronca da freira que estivesse cuidando de nós. As irmãs não batiam na gente, mas quando cometíamos falta grave, podíamos ficar de castigo, em pé, olhando para parede , ou sentadas num canto por alguns eternos minutos, sem falar com ninguém.

O castigo mais severo era ficar com as mãos presa numa sacola de pano. Mas só acontecia, quando uma menina agredia a outra com tapas, ou murros etc. assim mesmo, se fosse reincidente. Eram mais comuns as outras opções.

A Madre Superiora era uma senhora magrinha, de olhar e semblante severo. Nós a chamávamos de Nossa Madre. Ela só interferia, quando era para fazer uma recomendação ou orientação coletiva. Em geral, as outras irmãs resolviam os conflitos. Nossa Madre nunca brigava com a gente , mas tínhamos tinha mêdo dela.

A irmã que ficava mais tempo conosco, chamava-se Madre Cila. Ela passava o dia todo com a gente  e a noite velava por nós no dormitório. Era uma mulher bonita, usava um óculos de lente esverdeada. Ela não era muito de tocar na gente , mas o olhar dela nos acariciava. Há pessoas que conseguem demonstrar com o olhar, todo sentimento. Madre Cila é uma destas. Ela sorria com os olhos, se entrestecia com os olhos, e repreendia com os olhos. Sempre sabiamos quando estávamos fazendo a coisa certa ou errada, pelo olhar de Madre Cila.

Outra irmã que ficou na minha memória foi a Madre Joana Angélica. Ela não vivia no Bom Pastor quando eu cheguei lá. Muito tempo depois, ela chegou. Ela também era muito dócil e brincava conosco.

As outras irmãs me pareciam muito sérias e exigentes e ficavam mais com as meninas grandes orientando as tarefas domésticas: limpeza, lavar roupas, cozinhar, bordar etc.

Nas datas religiosas havia rezas extras no convento e programações especiais na capela. Nas paredes do refeitório, havia alguns quadros pequenos com figuras da crucificação. Durante a semana santa, rezavamos na frente daqueles quadrinhos. Para cada quadrinho tinha texto. A irmã lia um texto no livrinho e depois nós rezavamos o pai nosso, a ave maria e glória ao pai. Às vezes, os mesmos quadrinhos estavam na capela. Hoje sei que é a via sacra. Mas, naquela época eu não entendia.

Das meninas do Bom pastor, poucos nomes me ficaram na memória. A lembrança mais forte que tenho é de Ricardina. Uma menina magrinha, usava franja no cabelo chanel. Nós estávamos sempre juntas. Ela sempre me explicava as coisas que eu não conseguia entender.

Ela me ensinou a identificar as meninas que estavam se preparando para noviças, também me falou da madre vovozinha e de Dacimar.

Dacimar era uma das meninas maiores. Ela era morena e alta, tinha cabelos médios e crespos. Como as meninas maiores estavam sempre ocupadas com as tarefas domésticas e  preferiam a companhia das outras meninas maiores, eu tive pouco contato com ela, mas seu rosto nunca me saiu da lembrança.

Depois que Dacimar adoeceu,  não a vimos mais. Ela ficava na enfermaria e as pequenas, não tinhamos acesso. A pedido das freiras, rezávamos por ela.

Um dia Ricardina me avisou que era preciso trocar de roupa para irmos ao enterro de Dacimar. Eu ainda não entendia muito bem o que era morte, mas um vazio tomou conta de mim naquela hora.

Pela primeira vez, todas nós, todas juntas, freiras e meninas, saíamos do Convento. Seguimos por uma estrada de barro, rumo ao cemitério, passos lentos. A nossa frente, um caixão, carregado pelas meninas maiores e pelas irmãs. Havia também outras pessoas, gente que não era do convento, talvez, parentes de Dacimar. Não sei.

E nós cantávamos: " No céu, no céu, com minha mãe estarei, na santa glória, um dia, junto a virgem Maria..." Foi a primeira vez que ouvi esta música, e ela nunca saiu da minha memória. Foi a primeira vez que eu senti a tristeza pela morte de alguém.

Deixamos Dacimar lá e voltamos caladas. Desta vez nenhuma irmã precisou pedir que fizéssemos silênco. A morte nos emudeceu.

sábado, 10 de julho de 2010

James Olin Coleman

Olin Coleman e Jean Coleman
(Album de Mike Coleman)

James Olin Coleman. Norte-Americano,  serviu como missionário presbiteriano no Brasil de 1962 a 1975. Em Garanhuns-PE, trabalhou como professor de técnicas agrícolas no Instituto Bíblico do Norte e  junto aos  produtores rurais da redondeza, introduzindo técnicas modernas de agricultura.
Dr Olin Coleman, o aluno Benedito Anselmo do IBN e um agrilcutor em Garanhuns
(Album de Mike Coleman)

 De 1975 a 1981 trabalhou com colonos na região transamazônica, morando em Altamira, PA.

Em Garanhuns, sua esposa, dona Jean Coleman, trabalhava na Igreja Presbiteriana  Central como  professora da Escola Dominical e Diretora do Departamento Infantil.

Dr Olin, serviu também, no Seminário Presbiteriano do Norte, como professor, deão e administrador.

Olin foi um dos membros fundadores do Projeto Os Puritanos, que procura chamar a Igreja de volta às suas raízes na Reforma. Olin Coleman serviu como missionário no Brasil de 1962 a 1992  e  faleceu em 23 de setembro de 2007.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Hotel Familiar: presença italiana em Garanhuns


O Hotel Familiar localizava-se na Avenida Santo Antonio, ao lado direito da catedral de Santo Antonio. O prédio foi construído para ser a residência da família Grossi, uma família italiana que morava em Garanhuns, desde os idos de 1905.
O Chalet  Grossi, como era conhecido o prédio,  foi a primeira sede do Colégio Santa Sofia, fundado em 1912. Na época, chamado Colégio das Meninas. O Colégio das Meninas funcionou no Chalet  por dois anos. No dia 28 de outubro de 1914  mudou-se para o prédio construído pela Congregação Damas de Instrução Cristã, na Av. Dr. Luís Correia onde está até hoje.

O Jornal "O Sertão"  publica no dia 17.12.1911 a seguinte notícia: "Damos a população de Garanhuns , a gratíssima notícia de um Colégio nesta cidade, a abrir-se, impreterivelmente no próximo mês de Janeiro. Será confiado à proficiente Direção das R.R. Damas da I. Cristã, eméritas educadoras , já bem conhecidas em nosso Estado..."

No dia 31.10.1914, o mesmo jornal publica a seguinte nota:  "Colégio Santa Sofia; no dia 28 próximo passado foi inaugurado o magnífico Colégio Santa Sofia, edificado nesta Cidade, pelas Damas da Instrução Cristã".

O historiador Alberto da Silva Rêgo nos informa:  No dia anterior, 27, as religiosas ofereceram no jardim do Chalet Grossi, onde elas habitaram dois anos, um jantar aos operários do Colégio.

O Chalet foi também, a primeira sede do Colégio Diocesano: o Colégio dos Meninos.  Na época, denominado Ginásio de Garanhuns. O Ginásio foi inaugurado em 19.03.1915. Sendo o dia 19 de março um sábado, as aulas começaram a funcionar na segunda feira, 21 de março.

O Jornal " O Sertão" de 20.03.1915  insere a seguinte notícia: Gymnásio de Garanhuns-Dirigido por quatro sacerdotes do clero secular nomeados pelo Exmo Sr. Arcebispo, começará as suas aulas, na próxima segunda feira, 21 de março, funcionando, por enquanto, no aprazível e confortável Chalet Grossi, junto da Matriz.

O historiador Alfredo Vieira nos dá a seguinte informação: O Colégio dos Padres, como era chamado ao tempo do Monsenhor José Antero, foi fundado e teve sua vida inicial onde hoje funciona o Hotel Familiar.

Em fevereiro de 1920, o Ginásio passa a funcionar em prédio próprio localizado na mesma região onde foi construído o atual prédio do Colégio Diocesano, inaugurado em 12 de outubro de 1925.

Tanto o Colégio das Meninas , como o Ginásio de Garanhuns pagavam aluguel a Raquel Ferreira Grossi proprietária do Chalet.

Este era, á epoca um dos mais belos prédios de Garanhuns. Na arcada, lia-se as palavras: Deus, Pátria, Família, Instrução.

Mais tarde o prédio passou a ser a sede do Hotel Familiar onde geralmente se hospedavam os viajantes que afluiam a Garanhuns para renovar os estoques das lojas do Comércio. O Comércio de Garanhuns havia se expandido abundantemente desde  a inauguração da estação ferroviária em 28.09.1887.

O Hotel Familiar teve vários proprietários, dentre eles,  um outro italiano chamado Cipriano Ghedini Menegolo. Solteirão convicto, conhecido na cidade por "Seu Menegolo" ou "Seu Supriano" como falavam os que não sabiam pronunciar corretamente o seu nome. A rua Cipriano Menegelo (CEP 55291-465), na Boa Vista, é possivelmente,  uma homenagem a Menegolo.
Cipriano Menegolo

O Prédio do Hotel Familiar não mais existe. Em seu lugar está localizado o Banco Bradesco.

Os italianos tiveram uma presença marcante para o desenvolvimento econômico de  Garanhuns. Da família Grossi, destacamos:

Francisco Grossi (Chicó) que foi um dos pioneiros em instalação de Cinema. Em 1912, fundou o Cinema Grossi, na rua Santo Antonio, com excelente palco e capacidade para  600 pessoas. O cinema tinha ao lado um salão para Buffet e Bilhar, com iluminação elétrica proveniente de um motor OTTO de 12 hp.

F. Grossi  fez filmes e documentários sobre Garanhuns e cidades vizinhas e sobre a Cachoeira de Paulo Afonso. Trouxe artistas e companhias italianas para se apresentarem no palco do seu cinema.
Foi também, um pioneiro na instalação de luz elétrica em Garanhuns. Fornecia iluminação para casas comerciais  e residências, com um motor de 40 HP da marca OTTO.

Manuel Grossi que montou um pequeno transmissor de rádio de 10 watts, pelos idos de 1938. Este transmissor operou pouco tempo e foi desativado pelo governo por ser clandestino


Da família Notaro, destacamos Emílio Notaro  e Alfonso Notaro. Emílio era proprietário do restaurante ítalo-brasileiro, que localiva-se a Praça João Pessoa e era especializado em macarronada à italiana.

Alfonso Notaro era agrônomo, foi o primeiro diretor do Aprendizado Agrícola de Garanhuns, em 1911, e um dos pioneiros da produção de flores em Garanhuns. Contribuiu para que a Suíça pernambucana ficasse famosa pelos seus copos-de-leite, cravos, amores-perfeitos, e se tornasse conhecida como a "cidade das flores". Alfonso introduziu o cultivo comercial de flores no Nordeste, em 1912. A convite do Governo do Pernambuco, montou um centro de pesquisa na cidade de Garanhuns, cultivando várias espécies de flores ornamentais, entre as quais, destacava-se a rosa. No Bairro da  Boa Vista há uma rua em sua homenagem.

Havia também os Diletieri com suas lojas e armazens de estiva; os Schettini comerciantes do ramo de panificação; os Menotti Moroni e tantos outros italianos anônimos que migraram para Garanhuns em busca do seu aprazível clima e do sabor de suas águas, e deram sua contribuição ao desenvolvimento da nossa querida Suiça pernambucana.

domingo, 30 de maio de 2010

Estação Ferroviária de Garanhuns- Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti

Pernambuco foi o segundo estado brasileiro a possuir malha ferroviária e o primeiro do Nordeste. Implantada na segunda metade do século XIX essa malha teve papel fundamental como agente de desenvolvimento e surgimento de povoações no Estado.

Por onde os trilhos passaram, as estações ferroviárias se tornaram pólos de expansão dos núcleos onde se localizavam.

Em Garanhuns ocorreu o mesmo progresso. A estação ferroviária integrava a linha tronco sul que ligou inicialmente o Recife a Garanhuns. Com a construção da E. F. Sul de Pernambuco, que em 1894 ligou a estação de Paquevira ao Estado de Alagoas, o trecho até Garanhuns transformou-se num ramal.

A linha que vinha do Recife passava pelas cidades de Angelim, São João e Canhotinho. Depois,  foi prolongada para a cidade de Garanhuns.

Inaugurada em 28.09.1887, a Estação Ferroviária de Garanhuns, era a última estação ferroviária do ramal sul. No dia de sua inauguração, o evento foi marcado por uma grande festa na cidade, chegando a ser comparada com uma edição dos antigos jogos olímpicos.

A antiga estação  possuia três módulos:  o módulo frontal  abrigava a estação propriamente dita;  no centro ficava a Gare,  que era o lugar onde os trens circulavam e paravam; e no módulo porterior ficavam os armazéns

A estação pertencia a Great Western Railway Company , uma companhia criada  por  capitalistas ingleses em Londres, em 1872, com a finalidade de construir ferrovias no Brasil.

O funcionamento da  Great Western, no Brasil, foi autorizado em 1873, quando conseguiu a concessão para construir uma ferrovia em Pernambuco que ligaria o Recife a Limoeiro.

Em 1881 iniciou seu  funcionamento, com a conclusão do primeiro trecho (Recife - Paudalho). Em 1896 construiu a ferrovia Recife - Caruaru. Em 1945 a Great Western possuía mais de 1600 km de ferrovias, alcançando outros estados do Nordeste.

Em 1950 encerrou suas atividades no Brasil, sendo sucedida pela Rede Ferroviária do Nordeste, antecessora da Rede Ferroviária Federal.

Com o avanço proporcionado pela estação ferroviária no município de Garanhuns, outras áreas foram favorecidas com esse progresso. Houve a  evolução do comércio com novos estabelecimentos, incluindo a construção de empresas exportadoras e de escritórios;  o aumento das feiras e dos produtos ofertados por elas;  fundação de hotéis que recebiam turistas de várias partes do Estado de Pernambuco e do Nordeste, que vinham em busca do clima diferenciado e das belas paisagens da cidade.

Houve também, à modernização arquitetônica da cidade, que se espalhou rapidamente: Nas principais ruas, especialmente na rua do Comércio e rua Nova de Santo Antônio, partes da atual avenida Santo Antônio, são iniciadas as substituições das casas de taipas e das meias águas, assim como o preenchimento de terrenos ainda desocupados, por prédios de tijolos, alguns com as fachadas revestidas de azulejos e até com o piso de mosaicos etc.

Após algumas mudanças administrativas passadas pelas estradas de ferro, a Great Western em 1950 foi sucedida pela Rede Ferroviária do Nordeste e posteriormente foi substituída pela Rede Ferroviária Federal S.A. (R.F.F.S.A). Por uma série de fatores, as estações ferroviárias passaram a ser desinteressantes financeiramente e, aos poucos, foram sendo desativadas pelo interior do Estado.

A cidade de Garanhuns teve seu ramal e sua estação desativados no ano de 1971. Na gestão do prefeito Luiz Souto Dourado, o prédio da estação passou por obra de reforma, passando a sediar um Centro Cultural inaugurado em 27 de março de 1971 e posteriormente denominado Alfredo Leite Cavalcante, homenageando o historiador de Garanhuns.
Alfredo Leite pesquisou e escreveu o Livro História de Garanhuns. Era músico,  foi vereador, e implantou o serviço de transporte urbano em  Garanhuns. Faleceu em 27 de dezembro de 1976 aos 85 anos.


Observa-se na foto, modificação no módulo central, resultante do fechamento da Gare.
A antiga Estação Ferroviária de Garanhuns, está localizada na região central de Garanhuns e possui em seu entorno imediato, três praças - da Bandeira, Tiradentes e Dom Moura e a grande esplanada - Guadalajara, onde ocorrem os eventos de porte da cidade, que atraem milhares de pessoas de municípios vizinhos, estados do país e outros países. As praças e a esplanada foram construídas na área do antigo complexo ferroviário, resultando na demolição de equipamentos ferroviários, e na retirada ou aterramento dos trilhos.


O imóvel, hoje de propriedade da Prefeitura Municipal de Garanhuns, compreende uma área de terreno com cerca de 8.966 m², sendo o edifício da antiga estação ferroviária, o único remanescente do antigo complexo ferroviário. O antigo pátio ferroviário cedeu lugar às praças laterais.

O município de Garanhuns requereu a legalização da posse do imóvel urbano, onde hoje fica localizado o Centro Cultural de Garanhuns, as suas acessões e benfeitorias, que antes pertencia à Great Western of Brazil Railway Company Limited, que o possuiu por vários anos, passando depois à RFFSA.

Este foi adquirido pelo município, por meio de Mandado de Usucapião, tendo sido proferida a sentença pelo Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª. Vara Cível da Comarca de Garanhuns, Gerson Venâncio de Carvalho, em 27.09.1991.

O edifício da antiga estação é majestoso, de arquitetura inglesa, com o corpo central em dois pavimentos, e se destaca na paisagem da cidade pela sua localização privilegiada e pela sua grandiosidade. A edificação está inserida num terreno inclinado, sendo o nível mais baixo na rua Afonso Pena e o mais alto na rua Cel. Antônio Vitor. 


No predio funcionam:   o teatro Luiz Souto Dourado com seiscentos lugares; o museu  onde se encontra acervo mobiliário e quadros relacionados à antiga estação; a Biblioteca ; uma sala com material referente a imprensa local etc

O Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcante constitui hoje, um dos mais importantes espaços culturais da cidade e da região.


BIBLIOGRAFIA:
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE GARANHUNS: ARQUITETURA INGLESA NO AGRESTE PERNAMBUCANO,Cordeiro, M. de L. B.; Esposito, D. F.,FUNDARPE – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.