sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ação pedagógica do IBN sob a responsabilidade da missão norte-americana-1945 a 1983

O IBN nasceu em 02.04.1945 como uma training School para moças funcionando no Agnes Erskine. Em 1955 é transferido para Garanhuns e torna-se um novo tipo de instituição educacional para ambos os sexos, com o objetivo  de treinar professores, e treinar leigos para o trabalho nas igrejas, e também como colégio agrícola.

Escolas desse tipo foram fundadas por missionários americanos em todo Brasil e visavam preparar jovens para serem professores, ou para trabalharem como catequistas nas igrejas. As escolas incluíam também, para os rapazes, treinamento profissional em Agricultura.

Charles Ansley e agricultor

No IBN, os rapazes estudavam Bíblia e trabalhavam no campo para pagar a anuidade da escola.


O programa agrícola esteve sob a responsabilidade do missionário Agrônomo Charles Ansley(1955) e mais tarde do missionário Olin Coleman (1964) que introduziu também, programas voltados diretamente para os proprietários rurais da região, com a utilização de técnicas modernas aplicadas a agricultura.




Esse tipo de escola também era um ambiente onde se testavam novas práticas pedagógicas , de forma que o IBN cria uma Escola Experimental para Ensino de Crianças, as professoras da Escola são alunas do IBN, o que garantia a reprodução das práticas pedagógicas e da metodologia implantada pelos missionários. Mas, esta escola é também um ambiente de catequização. De forma que, nos finais de semana a escola se transforma em Igreja para evangelizar os pais das crianças que ali estudavam.

No Brasil, o alvo dos protestantes, que era a conversão através da educação, chegou a ser conhecido no lema que corria informalmente: “para cada igreja uma escola”; mas, o inverso também era verdadeiro, ou seja, existia em cada escola uma igreja.

Outro momento em que o IBN, vai dirigir a sua ação pedagógica não só para os adeptos do protestantismo, mas para a sociedade em geral, é a partir de 1963 quando participa da Campanha Laubauch de Alfabetização e passa a treinar pessoas de todos os credos como professores alfabetizadores. A Campanha foi encabeçada pelo Colégio Presbiteriano Agnes Erskine de Recife e utilizava um método de alfabetização de adultos criado pelo missionário protestante norte-americano Frank Charles Laubach (1884-1970). Laubach esteve no Brasil em 1943, a pedido do governo brasileiro a fim de explicar sua metodologia. A visita de Laubach a Pernambuco causou certa repercussão nos meios estudantis. Ele ministrou palestras nas escolas e faculdades e conduziu debates no Teatro Santa Isabel.

O método de Laubach consistia no reconhecimento das palavras escritas por meio de retratos de objetos familiares do dia-a-dia da vida do aluno. A letra inicial do nome do objeto recebia uma ênfase especial, de modo que aluno passava a reconhecê-la em outras situações, passando então a juntar as letras e a formar palavras.

A Missionária norte americana Lorie Sisk, professora do Colégio Agnes Erskine, especialista em alfabetização veio a Garanhuns com a finalidade de treinar alunos do IBN para participarem da campanha Laubach. O Colégio Santa Sofia, o XV de Novembro e o Ginásio do Arraial também enviaram pessoas para participarem do treinamento. A Historiadora Juracy Fialho Viana nos informa que 200 (duzentos ) adultos foram alfabetizados em Garanhuns.

Este era o início de um trabalho de alfabetização de adultos que somente vai se estabelecer a partir de 1965, com a oficialização da Cruzada de Ação Básica Cristã (Cruzada ABC) . O movimento era sustentada por um acordo entre a USAID (United States Agency for Devellopment), o Colégio Agnes Erskine (Recife) e a SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).

Aluna da Cruzada ABC recebendo certificado das mãos de Jule Spach
(Álbum do missionário Jule Spach)

"O objetivo é capacitar o homem analfabeto-marginalizado, a ser participante na sua sociedade contemporânea, como contribuinte do desenvolvimento sócio-econômico e recebedor de seus bens." (OBJETIVOS DA CRUZADA ABC, 1965).

O trabalho na área de alfabetização de adultos começou três anos antes da oficialização da Campanha ABC, com a distribuição das cartilhas "LER", "SABER" e da Cartilha ABC que foram confeccionadas a pedido do governo federal, por uma equipe do Colégio Agnes" em convênio com o governo Cid Sampaio (1959/63), de Pernambuco. Esse programa teve um período experimental realizado em alguns bairros pobres do Recife e acabou se expandindo por todo o Estado.

Em 1963, Miguel Arraes assumiu o governo de Pernambuco e o presidente do Brasil passou a ser João Goulart. Nesse período, houve um apoio local, regional e nacional à aplicação do Método Paulo Freire de alfabetização, então, o projeto alfabetizador dos missionários protestantes norte-americanos foi adiado e só foi retomado depois do Golpe de Estado de 1964.

Desfile da Cruzada ABC(Album do missionário  Jule Spach)


Em 1966, a cruzada ABC é lançada em Recife com a finalidade de alfabetizar adultos no Nordeste. Ao IBN cabe a responsabilidade de preparar os professores. A cruzada fornecia bolsas de estudos para formação destes professores, de maneira que em 1968 o IBN tem 80 alunos matriculados. Não havendo alojamento para todos, alguns se hospedam no Colégio Evangélico XV de Novembro.




O IBN funcionava em regime de internato, embora abrisse exceções. Caso o egresso tivesse residência em Garanhuns, poderia excepcionalmente, estudar em regime de externato.

Semelhante as demais escolas presbiterianas norte-americanas, adotava a co-educação e o sistema cooperativo. Rapazes e moças estavam juntos na sala de aula e os alunos obtinham sua educação através de uma contribuição financeira mensal e de serviços prestados ao estabelecimento. Muitos alunos tinham seus estudos financiados pelas suas igrejas de origem.

Os rapazes cuidavam da limpeza dos arredores, da horta, do internato e recebiam noções de agricultura. As moças ajudavam as cozinheiras, e lavavam pratos , passavam roupas, davam aulas ás crianças da escola experimental e cuidavam da limpeza dos prédios. Todo o trabalho era dividido em turmas.
Cuidando da copa

Os alunos exerciam atividades na igreja, participavam do coral, dos cultos, e do ensino das crianças. Havia horas marcadas para início dos trabalhos, aulas, divertimentos, refeições, cultos. 

Havia cultos devocionais no refeitório, antes das refeições, sempre ministrados por um aluno, previamente escalado.

A semelhança das demais escolas implantadas pelos missionários, havia no IBN uma preocupação com a formação integral do aluno: além dos Cursos Pedagógico Bíblico, Científico Bíblico, Música, aprendia-se também canto, instrumentos musicais, principalmente piano e violão, e havia incentivo à prática de esportes.
Os alunos faziam o Pedagógico ou Científico no Colégio Evangélico XV de novembro e o Curso Bíblico no IBN.



Além do Currículo Normal, havia também, as semanas de Cursos especiais, nas quais se ministrava cursos de comunicação, higiene e nutrição etc.

Em vários momentos a missionária e Jornalista Norte Americana Marion Van Horne esteve no IBN para ministrar cursos de Jornalismo e de formação de escritores.

Depois das oficinas de treinamento, os alunos recebiam certificação e o material era publicado em Livros. Van Horne era diretora de mídia impressa e de formação de escritores da Intermedia, que é um órgão do Conselho Nacional de Igrejas em Nova York. Ela viajou por mais de cinqüenta países oferecendo cursos de formação de escritores. Ela não falava português e as aulas eram traduzidas por Anne Pipkin, Charlotte ou Mary Garland.

Os professores do IBN eram os próprios missionários americanos e ex-alunos do IBN ou do Seminário Presbiteriano do Norte, o que garantia a manutenção dos métodos pedagógicos implantados pelos missionários.

O método era o indutivo, baseado na observação. Os estudantes que eram acostumados, em outras escolas , a decorarem os textos, de início, sentiam muita dificuldade.
Aula com Rev. Nizan Bahia- 1977
Alunas: Robélia e Renilda, Euclenildes  Souza e Rosana Rodrigues ??? 

Como era complicado, no início, elaborar,  a partir dos textos lidos, as dez observações solicitadas pela professora Charlotte Taylor!

Também, havia ali, uma maior proximidade entre professor e aluno, o que descomplicava bastante esta relação. Era muito estranhável para nós que vínhamos de uma escola onde imperava o distanciamento e autoritarismo do mestre, que os nossos professores nos conhecessem e nos chamassem pelo nome.
Aula com Hans Neuman ( corrijam-me se estiver enganada)

Os alunos do IBN, vinham de todos os Estados do Brasil, mas principalmente de Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco e se tornaram pastores, músicos, professores, profissionais liberais etc. até que ponto, reproduziram na sua vida profissional, as práticas aprendidas no IBN, é algo a ser investigado.


A estrutura física:
A estrutura física do IBN dá visibilidade ao seu projeto educacional. Os edifícios escolares explicitam a sua ação pedagógica.

Entrada principal do IBN

O primeiro prédio, na entrada principal do IBN, foi destinado à residência do diretor, de professores,  ao internato feminino, a biblioteca, sala de recreação, banheiros. A garagem e a lavanderia que ficavam no subsolo desse prédio. Os quartos das meninas eram bem arejados com janelas largas com grades, e todos tinham armários.



Outro ângulo do prédio de entrada

O Segundo edifício, composto do refeitório, copa, cozinha, dispensa, salas de aula, secretaria, salas de música e tinha uma entrada para a Capela Neville.




Havia também o prédio onde funcionava o internato Masculino, com quartos bem arejados camas e armários. Embora, na sala de aula homens e mulheres estivessem juntos, as moradias eram bem separadas, e os meninos eram proibidos de circularem ao lado do prédio onde ficavam as janelas dos quartos femininos. Mesmo assim, saíram dali alguns casamentos.
 
Na parte externa, uma área livre para a prática de esportes. E, por todos os lados, havia verde, muito verde, e flores, e pássaros cujo cantar acordava os alunos, todos os dias.


A cerca de 100 metros dos edifícios,  um anfiteatro pitorescamente construído, de forma circular, com arquibancada para 200 pessoas, para realização de eventos e cultos em ocasiões mais especiais.
Anfiteatro do IBN: Foto de Elio Rocha
A escola dispunha de pianos, harmônios, violões e um conjunto de Sinos para estudo e treinamento dos alunos de música.

BIBLIOGRAFIA:
MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil. São Bernardo do Campo/Juiz de Fora: Editeo/Editora da UFJF, 1994.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador - A história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984
VIANA, Juracy Fialho. 40 anos Construindo Vidas –Instituto Bíblico do Norte-1945-1985. Garanhuns: Missão presbiteriana do Brasil,1985.
RÊGO, Alberto da Silva. Os Aldeões de Garanhuns. Coleção tempo Municipal,10. Recife: FIAM/ Centro de Estudos de História Municipal, 1987.
CARDOSO, Luís de Souza. A Formação do Protestantismo de missão no Brasil – Evangelizar e Educar. Núcleo História e Educação. Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP;




Um comentário:

  1. DIAULAS MORAES MOTTA21 de junho de 2010 às 14:56

    São Mateus(ES, 21/06/2010.
    Fui alfabetizadora, com muito sucesso, usando o método Laucach, por três anos, em Vitória (ES). Mas após sucesivas mudanças de endereços e cidades, perdí o método.
    Hoje, decorridos 27 anos, fui convidada para alfabetizar adultos, num programa gratuito, nesta cidade.
    O método Laubach foi um sucesso no antigo Grupo Escolar "Pe. Anchieta", Vitória (ES).
    No semestre letivo, consegui alfabetizar 60 alunos.
    Maior sucesso foi do Grupo Escolar "Naydes Brandão", no bairro da Glória, Vila velha (ES).
    Os alunos ficaram apaixonados pelo estudo e a professora também.Gostaria de utilizar o método novamente. Eliethe Salcides Motta.
    Gostaria de saber como fazer para conseguir o material.
    Obrigada.
    Eliethe Salcides Motta
    Email do meu marido:
    diaulasmotta@gmail.com

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