sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Missão Norte Americana em Garanhuns

Evangelizar e educar foi a estratégia missionária dos protestantes que vieram para o Brasil a partir de meados do século XIX.  A chegada dos missionários causou alguns impactos na sociedade brasileira por que nas localidades em que se instalavam  abriam escolas, colégios,  igrejas e hospitais.



Rev. Dr. George Butler
Há indícios que levam os estudiosos a concluírem que o projeto missionário tinha relação com a ideologia expansionista norte americana. Os missionários se sentiam chamados por Deus para espalhar sua palavra a todos que dela necessitavam. A ideologia norte-americana do destino manifesto transparecia nessa postura que os fazia acreditar ser o povo escolhido para divulgar a verdadeira fé.

O contexto histórico que o Brasil atravessava propiciou a entrada e a veiculação do protestantismo, que se apresentava como uma opção de ideologia religiosa após mais de trezentos anos de predomínio absoluto do catolicismo.

A presença da religião católica na vida social e política brasileira sempre foi significativa, embora sempre se tenha observado que se tratava de uma religiosidade de aparências. Na verdade, os comportamentos morais e políticos não se procediam de acordo com os princípios religiosos cristãos. Mas, tudo se sucedia
sob o olhar complascente do Clero.

Quando os missionários  protestantes chegaram ao Brasil com a tarefa específica de divulgar o Evangelho, encontraram um país com uma cultura que apresentava elementos favoráveis à sua implantação, mesmo considerando-se as perseguições que foram levadas a efeito pelo clero católico e por segmentos conservadores aliados da Igreja, que viam o protestantismo como uma ameaça.

O clero católico, com sacerdotes ausentes ou distantes, rezava a missa em latim , oferecia uma educação primordialmente voltada para a elite, e não  disseminava a leitura da Bíblia, privilégio dos padres e de alguns poucos letrados.

Os primeiros missionários protestantes, pregavam o Evangelho, ensinavam hinos para serem cantados em reuniões familiares, faziam amigos entre os moradores da província e  preparavam  o terreno para a nova religião e, através dela, para um ideal de vida diferente do até então adotado pela sociedade brasileira.,

As primeiras instituições educacionais protestantes no Brasil vão surgir através da necessidade de evangelizar, já que toda a fé protestante se baseia na leitura da Bíblia, e o analfabetismo que reinava no Brasil era um obstáculo a conversão. Este é o motivo que vai levar o protestantismo de missão a envidar esforços no sentido de criar instituições educacionais que se encarregariam da educação dos brasileiros possibilitando a conversão dos mesmos.

Os missionários utilizavam-se basicamente de três instrumentos de intervenção pedagógica:
As escolas que eram voltadas para a elite e que foram determinantes na ação missionária. A elite vai se sentir atraída pelos métodos pedagógicos implantados nestes colégios que incorporavam o estilo de vida e os ideais liberais norte-americanos voltados para os interesses do capitalismo. Através da educação da elite, os missionários pretendiam atingir a população em geral, formando líderes protestantes que atuassem na sociedade. Algumas destas escolas são instituições muito importantes ainda hoje, como O Mackenzie, em S. Paulo, o Agnes Erskine, em Recife, O Colégio XV de Novembro, em Garanhuns;

Também, foram criadas escolas voltadas para as classes menos favorecidas. São as escolas paroquiais.  Estas escolas, também tiveram sua importância no desenvolvimento do projeto missionário, já que um dos maiores problemas para a transmissão da fé protestante era o analfabetismo. O protestantismo é uma religião do livro, tudo gira em torno da leitura da Bíblia, do hinário, da literatura doutrinária e devocional, portanto, era necessário ensinar o povo a ler;


Outro tipo de intervenção pedagógica deu-se através da fundação de escolas para treinamento de professores e obreiros: as training school. Estas escolas objetivavam garantir a continuidade da metodologia de ensino aplicada nas escolas pelos missionários. Garantia a formação de professores que iriam reproduzir essa metodologia. Além disso, visava, também, atender as atividades das igrejas, formando obreiros para propagarem as doutrinas da igreja protestante. O Instituto Bíblico do Norte, em Garanhuns. está incluído nesta categoria.

Muitas denominações protestantes enviaram missionários para Brasil . Em Garanhus, destaca-se a atuação dos  missionários presbiterianos, vindos da missão Sul dos Estados Unidos.

Os missionários presbiterianos que vieram para o Brasil eram procedentes da a Igreja do Norte (PCUSA) e da Igreja do Sul (PCUS). A agência missionária da primeira, era a Junta de Missões Estrangeiras, sediada em Nova York, e a igreja do sul tinha um Comitê de Missões Estrangeiras, sediado em Nashville, Tennessee. Ambas as organizações eram firmes partidárias da educação como um importante instrumento da obra missionária.

A Igreja do Norte (PCUSA) tinha duas missões no Brasil: Central Brazil Mission (Bahia e Sergipe) e South Brazil Mission (Rio de Janeiro até Santa Catarina); a Igreja do Sul (PCUS) também tinha duas missões: Northern Brazil Mission (nordeste e norte) e Southern Brazil Mission (São Paulo, Minas Gerais e Goiás).

Em Garanhuns, os missionários da Northern Brazil Mission idealizaram e fundaram várias instituições, entre as quais destacamos  Igreja Presbiteriana Central de Garanhuns(1895), o Seminário Presbiteriano do Norte(1899), transferido para Recife em 1921, O Colégio XV de Novembro(1900), o Orfanato Evangélico(1928) , o Instituto Bíblico do Norte(1945) e  uma Escola Experimental para Crianças que funcionava no próprio IBN (1959);

A Igreja Presbiteriana Central de Garanhuns  fundada pelo casal Butler em 1895. Sua organização formal se deu  em 22 de janeiro de 1900.


O Seminário Presbiteriano do Norte  teve sua fundação em 1899, com a denominação de Escola Theológica, com a  finalidade de preparar pessoas para o Ministério. Seu início foi em Garanhuns, com o Dr. GeorgeW. Butler, Rev. Martinho de Oliveira e o Rev. George Henderlite, dando aulas para os primeiros alunos, que vieram a ser também os primeiros ministros formados no Nordeste do Brasil.
Entre eles,  Jerônimo Gueiros, Benjamin Marinho, Alfredo Ferreira, Motta Sobrinho, Antonio Almeida e Antonio Gueiros.

Em 1921, o Seminário é transferido para Recife.  Em 1924, torna-se oficialmente Seminário Evangélico do Norte. Com a ajuda da Junta de Nashville (Igreja do Sul dos Estados Unidos) adquire-se no bairro da Madalena, o terreno onde ainda hoje funciona o Seminárrio Presbiteriano do Norte.

O Colégio Evangélico XVI de Novembro nasce em 1899 como uma escola do tipo paroquial. Foi idealizada pelo Dr. William Butler e sua esposa Rena Butler com a finalidade de levar instrução a um grupo de rapazes que havia se convertido. As aulas eram ministradas pelo casal Butler.   Em 1900, o  Rev. Martinho de Oliveira é o reforço necessário que vai oportunizar a fundação do então denominado Colégio Evangélico. Em 1908, a denominação passa a ser "15 de novembro", e a esta altura a sob a direção do missionário E.Henderlite e do Rev. Jerônimo Gueiros. A educação e os métodos pedagógicos do Colégio XV atraem os interresses das elites de Garanhuns e de outros municípios próximos e até de outros estados da federação  que vão colocar seus filhos para estudarem no colégio.

O Orfanato evangélico teve sua fundaçâo em dezembro de 1928, sob a direção do casal de  missionários norte americanos William e Lídia  Neville. Tinha como objetivo cuidar de crianças órfãs. Os recursos para o sustento vinham de doações de particulares. O historiador Alberto da Silva Rêgo nos informa que " em agosto de 1933, havia 20 pequerruchos. Contava com a colaboração sem ônus, do Dr. Tavares Correia, na parte pediátrica.

O Instituto Bíblico do Norte nasce em Recife, em 1945 nas dependências do Colégio Agnes Erskine, como Escola de Treinamento de Bíblia para Moças. Em 1955 transfere-se para Garanhuns já com a denominação Instituto Bíblico do Norte e oferece treinamento para obreiros leigos e professores e também treinamento agrícola. Os fundadores do IBN são os missionários Raynard Arehart e Francis Arehart.
IBN

A escola Experimental  teve sua fundação em 1959,  com três salas de aula, funcionando nas dependências do Instituto Bíblico do Norte, sob a Direção de Aretuza Gueiros, visava atender às crianças menos favorecidas dos arredores da cidade. No final de semana, a Escola era usada para realização de cultos evangelísticos e também como centro de distribuição dos alimentos recebidos do serviço mundial de igrejas, às famílias das crianças da Escola. A escola era um laboratório de testes de novas práticas pedagógicas e o ensino era ministrado por alunas do IBN.

No setor da saúde, destaca-se  o trabalho do missionário médico cirurgião George W Butler. Que a partir de 1984 passa a residir em Garanhuns. Teve uma atuação importantíssima no tratamento dos doentes de frebre amarela epidemia que nesta época, assolou a região. Em 1986, Butler consegue  licença para clinicar no Brasil. Na cidade vizinha de Canhotinho , onde passa a residir, Butler funda uma igreja, um colégio e um hospital.


Na imprensa, é importante enfatizar que a presença das oficinas gráficas do "Norte Evangélico"" em Garanhuns vai dar um grande impulso a divulgação da obra presbiteriana neste município. O referido periódico teve sua fundação em 1895, na cidade de Natal pelo missionário William Calvin Porter com a denominação de "O Século", mais tarde sob a direção do Rev. Jerônimo Gueiros, a tipografia do Jornal é transferida para Garanhuns, o jornal funde-se com a imprensa evangélica da Bahia e assume em fevereiro de 1909, a denominação de "Norte Evangélico".
William Thompson

O missionário norte americano William M. Thompson  foi diretor do Norte Evangélico no período compreendido entre 1911 a 1928. Além de ser colaborador  das revistas: "O Expositor";  "O Avante", e "As Lições internacionais"
REGO,  assim se expressa: "Falando do Dr. Thompson diz JDF: "Um cidadão que pode servir de modelo a quem queira passar pela vida com decência. Ministro de uma religião, que eu nem sei nem quero saber se é verdadeira, ele, pelo exemplo, pode angariar maior número de adeptos do que pela pregação de sua doutrina. Se é exato que há céu e para lá irão os homens de bem, o lugar de Dr. Thompson está reservado, sem a menor dúvida"

Em 1930, o também missionário William G. Neville assume a gerência do Norte Evangélico e em 1942 torna-se o diretor do jornal. Transcrevemos o que nos diz REGO: " Dr. Neville, também pastor , diretor do Norte evangélico, fundador do Orfanato evangélico ... vivia sempre sorrindo."
Dr. Neville era tão sorridente que tinha o apelido de "Happy Neville".

Em 1951 o missionário Langdon Henderlite assume a funçao de diretor responsável pelo Jornal. Em 1952, o Norte Evangélico deixa de circular em Garanhuns.

A presença dos missionários americanos e destas instituições contribuiu para que Garanhuns se tornasse um importante centro irradiador do presbiterianismo no Nordeste.

Desde 1894, quando o missionário médico norte-americano George Buttler passou a residir em Garanhuns, através do desenvolvimento do seu trabalho como médico e missionário o município tornou-se um centro irradiador para o nordeste do presbiterianismo e  das práticas pedagógicas implantadas pelo protestantismo de missão.

Os missionários, através das igrejas e instituições escolares, divulgaram o pensamento, o estilo de vida, a crença religiosa, a visão de mundo, a postura ética e os hábitos de trabalho e de poupança da sociedade norte-americana.

Para entendermos o valor desta contribuição, é importante conhecer a prática pedagógica protestante que era utilizada nos colégios implantados.

A educação baseava-se no método indutivo, intuitivo ou lição das coisas e que tinha como característica principal levar o aluno a desenvolver suas faculdades mentais através da observação. Era diferente da educação Católica e do Estado, pautadas no método dedutivo e de memorização; introduz-se, na sala de aula, a leitura silenciosa, diferentemente do que faziam as escolas brasileiras com seu costume de leitura em voz alta e decoração sem raciocínio. (MESQUIDA, 1993, p. 48-9)

Outra prática inovadora foi a utilização do princípio co-educativo: meninos e meninas, rapazes e moças estavam na mesma salas de aula; Esta é uma prática que nos dias de hoje não encerra nada de especial, mas até mais da metade do século XX, não era comum que assim acontecesse. Essa prática foi muito criticada por segmentos da igreja católica que classificou a educação protestante como promíscua.

Outro fato importante, é que o protestantismo de missão coloca ensino de crianças sob a responsabilidade feminina levando a mulher a ocupar um lugar de destaque na obra educativa.

O protestantismo de missão proclamava a educação como um direito do indivíduo, e entendia que sendo assim, era preciso garanti-la indistintamente a todos, independentemente da raça, da cor, do sexo ou da classe social.

O individualismo é a marca indelével do protestantismo. A salvação no protestantismo se dá individualmente. O protestantismo não crê em redenção coletiva. De forma que essa ideologia vai ser transferida também para o campo pedagógico.

O ensino enfatizava o individualismo ético incutindo valores como honra, virtude, respeito mútuo, liberdade, solidariedade e cidadania, o que caia no agrado dos intelectuais da época e dos formadores de opinião.

A estrutura física onde se desenvolvia o processo educacional também era diferente: a localização das escolas em função da classe social a ser influenciada; a aparência estética dos edifícios, construídos com estrutura sólida e imponente, ao estilo dos casarões das fazendas do sul dos Estados Unidos; o ambiente interno das escolas com nova concepção pedagógica – ausência de estrado nas salas, aproximando alunos e o mestre, carteiras individuais, auditórios para programas coletivos, materiais didáticos, laboratórios, equipamento musical, esportes, classes mistas; o conteúdo identificado com valores liberais, da cultura e do modo de vida norte americano.

Mesquida (194, p. 49) destaca ainda que “era nesse novo espaço sócio-cultural atraente, sedutor, que se materializavam, pela prática educativa, a história, o modo de vida (o american way of life) e a concepção de mundo do país de origem dos missionários”.

Missionários Americanos que atuaram em Garanhuns:
Ann Farr Pipkin
Arthur Lindsay e Anne (1960 a ?)
Charles Ansley e Ruth Ansley.
Charlotte Garland Taylor
Donald E. Williams ( 1954 a ?
Douglas Barrick e Sheila Barrick
Edwin Raynard Arehart e Frances Arehart ( 1951 a ?
Estella Koroch
Farris McDaniel Godrum
Frank Musick e Elizabeth Musick
George W.Taylor- (1921- 1938)
George Henderlite (1908 a 1914)
George William Butler e Rena Butler
Hodge Smith (1955 a ?)
James Maner e Índia Maner
Jule Spach e Nancy (1956 a 1960)
Julia Taylor
Malcom Watson (1950 a 1951)
Margaret Morrison
Mary Garland Taylor
Mary Sullivan
Nancy Boyd Garrison
James Olin Coleman e Jean Coleman
Paul Coblentz e Adelia Coblentz
Susan Cockerell (1925 ?? especialista em pedagodia- Colégio 15 de Novembro)
Walter Swetnam (1938 a 1948)
William Brandt e Louise (1959 a 1972)
William M Thompson e Catherina Thompson ( 1910 a
William Neville e Lídia

BIBLIOGRAFIA:
MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil. São Bernardo do Campo/Juiz de Fora: Editeo/Editora da UFJF, 1994.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador - A história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984
VIANA, Juracy Fialho. 40 anos Construindo Vidas –Instituto Bíblico do Norte-1945-1985. Garanhuns: Missão presbiteriana do Brasil,1985.
RÊGO, Alberto da Silva. Os Aldeões de Garanhuns. Coleção tempo Municipal,10. Recife: FIAM/ Centro de Estudos de História Municipal, 1987.
CARDOSO, Luís de Souza. A Formação do Protestantismo de missão no Brasil – Evangelizar e Educar. Núcleo História e Educação. Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP;

4 comentários:

  1. Cara,Rosilda.
    Excelente a sua abordagem a respeito do trabalho dos missionários norte-americanos em nosso Estado.Sirvo-me do seu trabalho para enriquecer meu pequeno opúsculo de memórias.

    Dimas Cunha
    Vilhena-Rondônia

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  2. Cara Rosilda,

    As datas de William Brandt e Louise em Garanhuns são o seguinte: Chegaram em Garanhuns em 1959, vindos do Recife, PE, e ficaram até 1972, quando se mudaram para Campina Grande, PB.

    Robert (Bob) Brandt (filho)
    Campina Grande, PB

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  3. Robert Brandt

    Obrigada por sua contribuição. Corrigimos as datas. Se quiser cooperar com nosso blog enviando fotos dos missionários, será ótimo. Envie para rosildacavalcanti@hotmail.com

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  4. Rosilda, essas fotos do acervo de Miss Nancy e Jesse Meneses estão em páginas deles mesmos? Eu baixei essas fotos por aqui e elas visualizam pequenas!

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