Escolas desse tipo foram fundadas por missionários americanos em todo Brasil e visavam preparar jovens para serem professores, ou para trabalharem como catequistas nas igrejas. As escolas incluíam também, para os rapazes, treinamento profissional em Agricultura.
Charles Ansley e agricultor |
No IBN, os rapazes estudavam Bíblia e trabalhavam no campo para pagar a anuidade da escola.
O programa agrícola esteve sob a responsabilidade do missionário Agrônomo Charles Ansley(1955) e mais tarde do missionário Olin Coleman (1964) que introduziu também, programas voltados diretamente para os proprietários rurais da região, com a utilização de técnicas modernas aplicadas a agricultura.
Esse tipo de escola também era um ambiente onde se testavam novas práticas pedagógicas , de forma que o IBN cria uma Escola Experimental para Ensino de Crianças, as professoras da Escola são alunas do IBN, o que garantia a reprodução das práticas pedagógicas e da metodologia implantada pelos missionários. Mas, esta escola é também um ambiente de catequização. De forma que, nos finais de semana a escola se transforma em Igreja para evangelizar os pais das crianças que ali estudavam.
No Brasil, o alvo dos protestantes, que era a conversão através da educação, chegou a ser conhecido no lema que corria informalmente: “para cada igreja uma escola”; mas, o inverso também era verdadeiro, ou seja, existia em cada escola uma igreja.
Outro momento em que o IBN, vai dirigir a sua ação pedagógica não só para os adeptos do protestantismo, mas para a sociedade em geral, é a partir de 1963 quando participa da Campanha Laubauch de Alfabetização e passa a treinar pessoas de todos os credos como professores alfabetizadores. A Campanha foi encabeçada pelo Colégio Presbiteriano Agnes Erskine de Recife e utilizava um método de alfabetização de adultos criado pelo missionário protestante norte-americano Frank Charles Laubach (1884-1970). Laubach esteve no Brasil em 1943, a pedido do governo brasileiro a fim de explicar sua metodologia. A visita de Laubach a Pernambuco causou certa repercussão nos meios estudantis. Ele ministrou palestras nas escolas e faculdades e conduziu debates no Teatro Santa Isabel.
O método de Laubach consistia no reconhecimento das palavras escritas por meio de retratos de objetos familiares do dia-a-dia da vida do aluno. A letra inicial do nome do objeto recebia uma ênfase especial, de modo que aluno passava a reconhecê-la em outras situações, passando então a juntar as letras e a formar palavras.
A Missionária norte americana Lorie Sisk, professora do Colégio Agnes Erskine, especialista em alfabetização veio a Garanhuns com a finalidade de treinar alunos do IBN para participarem da campanha Laubach. O Colégio Santa Sofia, o XV de Novembro e o Ginásio do Arraial também enviaram pessoas para participarem do treinamento. A Historiadora Juracy Fialho Viana nos informa que 200 (duzentos ) adultos foram alfabetizados em Garanhuns.
Este era o início de um trabalho de alfabetização de adultos que somente vai se estabelecer a partir de 1965, com a oficialização da Cruzada de Ação Básica Cristã (Cruzada ABC) . O movimento era sustentada por um acordo entre a USAID (United States Agency for Devellopment), o Colégio Agnes Erskine (Recife) e a SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).
Aluna da Cruzada ABC recebendo certificado das mãos de Jule Spach (Álbum do missionário Jule Spach) |
"O objetivo é capacitar o homem analfabeto-marginalizado, a ser participante na sua sociedade contemporânea, como contribuinte do desenvolvimento sócio-econômico e recebedor de seus bens." (OBJETIVOS DA CRUZADA ABC, 1965).
O trabalho na área de alfabetização de adultos começou três anos antes da oficialização da Campanha ABC, com a distribuição das cartilhas "LER", "SABER" e da Cartilha ABC que foram confeccionadas a pedido do governo federal, por uma equipe do Colégio Agnes" em convênio com o governo Cid Sampaio (1959/63), de Pernambuco. Esse programa teve um período experimental realizado em alguns bairros pobres do Recife e acabou se expandindo por todo o Estado.
Em 1963, Miguel Arraes assumiu o governo de Pernambuco e o presidente do Brasil passou a ser João Goulart. Nesse período, houve um apoio local, regional e nacional à aplicação do Método Paulo Freire de alfabetização, então, o projeto alfabetizador dos missionários protestantes norte-americanos foi adiado e só foi retomado depois do Golpe de Estado de 1964.
Desfile da Cruzada ABC(Album do missionário Jule Spach) |
Em 1966, a cruzada ABC é lançada em Recife com a finalidade de alfabetizar adultos no Nordeste. Ao IBN cabe a responsabilidade de preparar os professores. A cruzada fornecia bolsas de estudos para formação destes professores, de maneira que em 1968 o IBN tem 80 alunos matriculados. Não havendo alojamento para todos, alguns se hospedam no Colégio Evangélico XV de Novembro.
O IBN funcionava em regime de internato, embora abrisse exceções. Caso o egresso tivesse residência em Garanhuns, poderia excepcionalmente, estudar em regime de externato.
Semelhante as demais escolas presbiterianas norte-americanas, adotava a co-educação e o sistema cooperativo. Rapazes e moças estavam juntos na sala de aula e os alunos obtinham sua educação através de uma contribuição financeira mensal e de serviços prestados ao estabelecimento. Muitos alunos tinham seus estudos financiados pelas suas igrejas de origem.
Os rapazes cuidavam da limpeza dos arredores, da horta, do internato e recebiam noções de agricultura. As moças ajudavam as cozinheiras, e lavavam pratos , passavam roupas, davam aulas ás crianças da escola experimental e cuidavam da limpeza dos prédios. Todo o trabalho era dividido em turmas.
Cuidando da copa |
Os alunos exerciam atividades na igreja, participavam do coral, dos cultos, e do ensino das crianças. Havia horas marcadas para início dos trabalhos, aulas, divertimentos, refeições, cultos.
Havia cultos devocionais no refeitório, antes das refeições, sempre ministrados por um aluno, previamente escalado.
A semelhança das demais escolas implantadas pelos missionários, havia no IBN uma preocupação com a formação integral do aluno: além dos Cursos Pedagógico Bíblico, Científico Bíblico, Música, aprendia-se também canto, instrumentos musicais, principalmente piano e violão, e havia incentivo à prática de esportes.
Os alunos faziam o Pedagógico ou Científico no Colégio Evangélico XV de novembro e o Curso Bíblico no IBN.
Além do Currículo Normal, havia também, as semanas de Cursos especiais, nas quais se ministrava cursos de comunicação, higiene e nutrição etc.
Em vários momentos a missionária e Jornalista Norte Americana Marion Van Horne esteve no IBN para ministrar cursos de Jornalismo e de formação de escritores.
Depois das oficinas de treinamento, os alunos recebiam certificação e o material era publicado em Livros. Van Horne era diretora de mídia impressa e de formação de escritores da Intermedia, que é um órgão do Conselho Nacional de Igrejas em Nova York. Ela viajou por mais de cinqüenta países oferecendo cursos de formação de escritores. Ela não falava português e as aulas eram traduzidas por Anne Pipkin, Charlotte ou Mary Garland.
Os professores do IBN eram os próprios missionários americanos e ex-alunos do IBN ou do Seminário Presbiteriano do Norte, o que garantia a manutenção dos métodos pedagógicos implantados pelos missionários.
O método era o indutivo, baseado na observação. Os estudantes que eram acostumados, em outras escolas , a decorarem os textos, de início, sentiam muita dificuldade.
Aula com Rev. Nizan Bahia- 1977 Alunas: Robélia e Renilda, Euclenildes Souza e Rosana Rodrigues ??? |
Como era complicado, no início, elaborar, a partir dos textos lidos, as dez observações solicitadas pela professora Charlotte Taylor!
Também, havia ali, uma maior proximidade entre professor e aluno, o que descomplicava bastante esta relação. Era muito estranhável para nós que vínhamos de uma escola onde imperava o distanciamento e autoritarismo do mestre, que os nossos professores nos conhecessem e nos chamassem pelo nome.
Aula com Hans Neuman ( corrijam-me se estiver enganada) |
Os alunos do IBN, vinham de todos os Estados do Brasil, mas principalmente de Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco e se tornaram pastores, músicos, professores, profissionais liberais etc. até que ponto, reproduziram na sua vida profissional, as práticas aprendidas no IBN, é algo a ser investigado.
A estrutura física:
A estrutura física do IBN dá visibilidade ao seu projeto educacional. Os edifícios escolares explicitam a sua ação pedagógica.
Entrada principal do IBN |
O primeiro prédio, na entrada principal do IBN, foi destinado à residência do diretor, de professores, ao internato feminino, a biblioteca, sala de recreação, banheiros. A garagem e a lavanderia que ficavam no subsolo desse prédio. Os quartos das meninas eram bem arejados com janelas largas com grades, e todos tinham armários.
Outro ângulo do prédio de entrada |
O Segundo edifício, composto do refeitório, copa, cozinha, dispensa, salas de aula, secretaria, salas de música e tinha uma entrada para a Capela Neville.
Havia também o prédio onde funcionava o internato Masculino, com quartos bem arejados camas e armários. Embora, na sala de aula homens e mulheres estivessem juntos, as moradias eram bem separadas, e os meninos eram proibidos de circularem ao lado do prédio onde ficavam as janelas dos quartos femininos. Mesmo assim, saíram dali alguns casamentos.
Na parte externa, uma área livre para a prática de esportes. E, por todos os lados, havia verde, muito verde, e flores, e pássaros cujo cantar acordava os alunos, todos os dias. A cerca de 100 metros dos edifícios, um anfiteatro pitorescamente construído, de forma circular, com arquibancada para 200 pessoas, para realização de eventos e cultos em ocasiões mais especiais.
Anfiteatro do IBN: Foto de Elio Rocha |
BIBLIOGRAFIA:
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ELIAS, Norbert. O processo civilizador - A história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984
VIANA, Juracy Fialho. 40 anos Construindo Vidas –Instituto Bíblico do Norte-1945-1985. Garanhuns: Missão presbiteriana do Brasil,1985.
RÊGO, Alberto da Silva. Os Aldeões de Garanhuns. Coleção tempo Municipal,10. Recife: FIAM/ Centro de Estudos de História Municipal, 1987.
CARDOSO, Luís de Souza. A Formação do Protestantismo de missão no Brasil – Evangelizar e Educar. Núcleo História e Educação. Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP;