domingo, 2 de dezembro de 2012

A Revolução de 1930 e a Coluna Louca de Garanhuns

Rosilda Cavalcanti
Jornal A Província, 06 de fevereiro de 1930
A política do café-com-leite foi um acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo- grande produtor de Café  e Minas Gerais-grande produtor de leite.

Teve início em 1898, no governo do paulista Manuel Ferraz de Campos Salles, e encerrou-se em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder.

Em 1929 houve uma cisão estre as elites dos dois estados que acabou por levar ao fim a República Velha: Whashington Luis que era um presidente paulista optou por indicar para sua sucessão um outro paulista, Júlio Prestes

As oligarquias mineiras não gostaram e se aliaram aos gaúchos e lançaram a candidatura  do gaúcho Getúlio Vargas  à presidência e do Paraibano João Pessoa à vice-presidência.
Formaram o Partido da Aliança Liberal , em nome do qual seria feita a campanha, que ganhou ímpeto, e as caravanas liberais formadas por elementos mais jovens percorreram as principais cidades do nordeste.

Aproximaram-se as eleições e as caravanas partiam para as campanhas eleitorais. A tônica dos discursos era a critica arrasadora à plataforma de Júlio Prestes e aos atos de intolerância do Presidente Washington Luís.

Nem sempre as caravanas encontravam receptividade. Em Garanhuns, houve um tiroteio durante um comício da caravana do Deputado Federal Batista Luzardo.


Jornal A Província, Domingo, 2 de fevereiro de 1930

Júlio Prestes venceu as eleições, mas o resultado das eleições não foi bem aceito pela  oposição. Além disso, em 26 de Julho de 1930, João Pessoa, o candidato à Vice na chapa de Getúlio Vargas, foi assassinado em uma confeitaria, no Recife, por João Dantas, um de seus adversários políticos.

A morte de João Pessoa teve grande ressonância e  foi explorada politicamente. Estes acontecimentos desencandearam a Revolução de 1930, que estourou em 04 de Outubro.

O Comando geral do movimento ficou a cargo do general Goes Monteiro nascido em Alagoas, mas com uma carreira militar ligada ao Rio Grande do Sul onde firmou amizade com Getúlio Vargas.

No Nordeste, o movimento foi desfechado sob o comando de Juarez Távora. O centro das operações foi a Paraíba.

Em  Pernambuco, o povo ocupou prédios federais e um depósito de armas, além disso os ferroviários da Great Western entraram em greve. Temeroso, o governador Estácio Coimbra, aliado do presidente Washinton Luis , fugiu num rebocador,  para Barreiros.  No Rio Grande do Sul, em Minas, na Paraíba era o governo e a tropa que agiam, embora secundados por elementos civis. Em Pernambuco, o povo quase que por si só, com três ou quatro oficiais destemidos,  fez  a revolução.

As caravanas liberais se uniram às colunas tenentistas, uma espécie de desfile militar que os oficiais do exercito faziam por todo o país propagando a necessidade de reformas políticas e sociais. Em geral, o povo se colocava em oposição ou indiferente ao movimento, mas durante a revolução de trinta, os  liberais se associaram transitoriamente ao tenentismo, formando os tenentes civis.


A COLUNA LOUCA DE GARANHUNS:

Em Garanhuns, o Tenente Amâncio Nunes, do Tiro de Guerra 45, convocou seus atiradores e formou-se uma coluna de voluntários, sob o nome de Coluna Louca. As inscrições se faziam no paço municipal, na rua Santo Antonio, sede do Governo revolucionário.

Mario Sarmento Pereira de Lyra , um alagoano que chegou ainda jovem a Garanhuns, foi o lider revolucionário, ao lado de Fausto Lemos, José Gaspar da Silva, Mário Matos, Eurico Pontes de Lyra, Reynaldo Alves, Josafá Pereira, João Tude de Melo e muitos outros que foram aderindo e se tornando os chamados autênticos, ou seja Revolucionários da 1ª hora.

O deputado Souto Filho, chefe político local, aliado do Governador Estácio Coimbra, e o Prefeito Euclides Dourado ao saberem  que o governador abandonara o palácio resolveram  entregar o governo municipal de Garanhuns aos revolucionários representados por uma junta governativa composta por Mário Lyra, Fausto Lemos e José Gaspar da Silva.
Revista Vida Doméstica- RJ- Edição 188-  Ano: 1933
A Coluna foi crescendo e todas as noites na Praça João Pessoa aconteciam comícios  com discursos inflamados de Reynaldo Lins, Uzzae Canuto, Josemir Correia e de outros revolucionários. Tudo, ao som dos hinos de João Pessoa e da Aliança Liberal com a música do frevo do Clube Vassourinhas.

Toda essa agitação e também a chegada da Coluna liderada por Juracy Magalhães, tenente do exército nomeado interventor na Bahia por Getúlio Vargas,  fez de Garanhus o eixo central dos Revolucionários que demandavam por via terrestre ao Rio de Janeiro.

Juarez Távora, chefe Nacional da Revolução no Norte do Brasil, comissionava Mario Lyra no posto de Capitão da Revolução. E Lima Cavalcanti, interventor federal da Revolução em Pernambuco, nomeou   Mário Lyra interventor em Garanhuns.

Mário Lyra conduziu a Coluna Louca até Alagoas, mas o governador Álvaro Paes, ao saber das notícias que as colunas de revoltosos avançavam para o território alagoano,  fugiu rumo ao sul do país, antes mesmo da chegada dos revoltosos a Maceió, não se sabe ao certo se, numa barcaça ou num iate, mas, do mesmo modo que o governador pernambucano. Vago o cargo de governador de Alagoas, o Governo Federal ocupou-o com a indicação de interventores.

Os revolucionários de 30 tinham como objetivo comum impedir a posse de Júlio Prestes e derrubar o governo de Washington Luís. Além disso, havia os que queriam reformular o sistema político vigente, os tenentes que queriam reformas sociais e a centralização do poder, e também havia uma ala dissidente da velha oligarquia, que viu no movimento revolucionário um meio de aumentar seu poder pessoal.

Sob pressão das forças revolucionárias, o poder foi transmitido a Getúlio Vargas. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República e começava um novo período da história política brasileira, com Getúlio Vargas à frente do Governo Provisório. Era o início da Era Vargas

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
VIEIRA, Alfredo- Garanhuns do meu tempo: memórias- Graf. Recife, 1981
COSTA, Rodrigo José da -Sob o signo do sangue: a trajetória republicana em Alagoas e a sinfonia da violência em tom maior (1930 – 1964);Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 -http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1307304576_ARQUIVO_Capitulo1.pdf